Como está, fica

(*) Carlos Brickmann

Não, caro leitor, o presidente Michel Temer não vai chutar o PSDB para fora do Governo. No máximo, pode reduzir um pouco a presença tucana (hoje são quatro ministros e sabe-se lá quantos ocupantes de cargos de confiança). Num momento difícil, Temer não pode dispensar apoios.

Não, caro leitor, Lula não vai ficar quieto, embora tenha sido condenado e esteja prestes a ser julgado de novo, agora pelo sítio de Atibaia. E seu alvo principal continua sendo o juiz Sérgio Moro, que irá julgá-lo. Lula não acredita que possa ser absolvido na primeira instância; só acredita que a Justiça, habitualmente lenta, não irá condená-lo em segunda instância antes de 15 de agosto de 2018, quando sua candidatura à Presidência já estará registrada. Se condenado em segunda instância, vira ficha-suja, sem poder se candidatar; mas, se já for candidato, terá como brigar. Não é uma tese pacífica: há quem diga que, no momento em que um candidato é condenado em segunda instância, a Justiça pode cancelar o registro. Mas dá margem para argumentar que só foi condenado para tirá-lo da eleição. E promete ser combativo, não permitindo que sua história seja maculada.

Não, caro leitor, nesta hora de definições, o Congresso não está funcionando. Senado e Câmara estão de férias. Voltam a se reunir no dia 2, e a pauta é a autorização ao Supremo para instaurar inquérito contra Temer.

Não, caro leitor, não reclame. Se o Governo parou, talvez o país ande.

PSDB total

A votação da denúncia contra Temer deve trazer surpresas. Em todos os partidos da base governista há gente disposta a votar contra o presidente a quem apoia – e, por tabela, contra seus próprios partidos, que têm cargos e portanto partilham a política oficial. Até no próprio partido de Temer, o PMDB, há dissidentes. Um, o deputado Jarbas Vasconcelos, acha que qualquer denúncia de corrupção tem de ser investigada. Outro, Osmar Serraglio, foi ministro da Justiça de Temer e não engoliu seu afastamento. Um é ligado ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral e não tem qualquer apreço pelo presidente. Há quatro outros dizendo que ainda não decidiram (aliás, os críticos de Temer na base governista também usam a desculpa da indecisão). Em resumo, todos são PSDB. Em cima do muro.

Temer, vitória provável

O presidente tem excelentes probabilidades de vencer na Câmara. Seus adversários, para mandar investigar a denúncia, precisam de 342 votos. Até agora não conseguiram sequer 342 deputados, votem como votarem, para abrir a sessão. A oposição pode adiar a votação o quanto quiser, mas enquanto isso a pauta fica trancada. Quanto tempo os deputados resistem sem votar nada do interesse de seus eleitores e doadores de campanha?

O grande acordo

E, o que todos os envolvidos desmentem, há uma tentativa de acordo entre Governo e oposição para proteger-se mutuamente. Por enquanto a articulação é subterrânea, mas logo terá de aparecer em leis que limitem os poderes do Ministério Público e da Justiça. O interesse é de todos: um terço do Congresso está sob investigação. Será preciso rever a delação premiada, evitando acordos como o da JBS, reduzindo a vantagem legal do corruptor sobre os corruptos; endurecer as exigências para a ordem de condução coercitiva; punir os vazamentos de informações; limitar o prazo em que o suspeito pode ficar preso sem qualquer julgamento. Em suma, Sérgio Moro nunca mais. Na hora de votar essas medidas que beneficiam a eles todos, quem aceitará que fiquem trancadas por uma denúncia contra Temer?

Tucano x tucano

Aliás, o PSDB é um partido completo: ele mesmo escolhe seus líderes, ele mesmo fala mal deles, ele mesmo tenta destruí-los. Aécio não apoiou Serra nem Alckmin; nem Serra nem Alckmin apoiaram Aécio; nem Serra nem Aécio aceitam a candidatura de Alckmin. Os tucanos só se unem para lamentar a derrota do candidato que não apoiaram. A história se repete: Lula, embora lidere as pesquisas, tem rejeição gigantesca, e os tucanos unidos poderiam batê-lo. Mas o PSDB ainda é um partido de amigos em que todos são inimigos. O prefeito paulistano João Dória Jr. ganhou alcance nacional por seu bom trabalho em São Paulo. Aí surge seu colega tucano José Aníbal para acusá-lo de ser um péssimo prefeito, em cuja administração a cidade só piora. Dória tem 62% de aprovação na cidade.

A notícia agradável

E, saindo dessas coisas chatas, uma bela notícia: duas rádios públicas, a Rádio MEC (EBC, federal) e a Rádio Cultura (FPA, paulista), lançaram um programa de boa música brasileira, comandado por um conhecedor do assunto (e bom papo), Ruy Castro. Aos domingos, às 20h30, na Cultura FM (103,3 MHz) e na MEC FM (99,3 MHz) e AM (800 kHz). Vale pelas ótimas músicas, em gravações raras, preciosas; vale pelo ótimo Ruy Castro.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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