Chefe do Estado Maior Conjunto dos Estados Unidos, o general Joseph Dunford afirmou, nesta quinta-feira (27), que o Pentágono não aplicará, até receber ordem oficial, a decisão de proibir o alistamento de transgêneros nas Forças Armadas do país, medida anunciada pelo estabanado Donald Trump.
“Não haverá modificação alguma à política atual até que o secretário de Defesa [James Mattis] tenha recebido a ordem do presidente e emita diretrizes para implementá-la”, anunciou Dunford num comunicado enviado a chefes do serviço militar.
“Enquanto isso, seguiremos tratando todo nosso pessoal com respeito”, acrescentou o chefe do Estado Maior Conjunto, que ordenou aos comandos que “permaneçam focados” em suas missões militares.
O comunicado sugere que Mattis ainda não recebeu uma ordem presidencial sobre a mudança na política de transgêneros nas Forças Armadas americanas. O secretário de Defesa está de férias, e seu porta-voz se recusou a comentar o anúncio de Trump.
O republicano anunciou nesta quarta-feira, via Twitter, a sua decisão de proibir que transgêneros sirvam nas Forças Armadas americanas após ter consultado, segundo garantiu, generais e especialistas militares.
“As nossas Forças Armadas devem se concentrar em vitórias decisivas e extraordinárias e não podem se preocupar com os tremendos custos e interrupções médicas que seriam causados por transgêneros entre os militares”, argumentou o apasquinado Trump.
A decisão invalidaria uma política anunciada pela gestão do ex-presidente Barack Obama, de que transgêneros poderiam servir nas Forças Armadas dos EUA abertamente e não seriam dispensados do serviço em razão da identidade de gênero.
O anúncio tinha sido feito pelo então secretário americano da Defesa, Ash Carter, em junho de 2016. Na ocasião, Carter disse que nas Forças Armadas americanas deveriam recrutar o melhor pessoal disponível sem “barreiras não relacionadas à qualificação pessoal”.
O governo de Obama tinha fixado o dia 1º de julho de 2017 como data para o início de recrutamento de transgêneros para as tropas. Em 30 de junho, no entanto, um dia antes do prazo, o Pentágono anunciou um adiamento de seis meses, até 1º janeiro de 2018, para incorporar transgêneros nas forças armadas americanas. Contudo, como Trump precisa camuflar a própria incompetência com a anulação de medidas adotadas pelo antecessor, o picadeiro ianque deve continuar por mais algum tempo.
Pegos de surpresa
Apesar de Trump ter dito que consultou generais e especialistas militares, veículos da imprensa americana noticiaram nesta quinta-feira que Mattis, chefe do Pentágono, foi avisado da decisão tomada pelo presidente na véspera do anúncio.
Segundo o jornal “The New York Times”, por trás da proibição de Trump estaria a necessidade de aprovar no Congresso, nesta semana, um pacote orçamentário de US$ 790 bilhões para o setor defesa, sendo que alguns republicanos votariam contra se o projeto incluísse o tratamento hormonal aos militares transexuais.
Entre os que protestaram contra a decisão de Trump está Chelsea Manning, a ex-soldado transgênero que vazou para Julian Assange as primeiras informações sigilosas publicadas pelo site Wikileaks em 2010 e que saiu da prisão recentemente após receber o indulto de Obama.
Chelsea participou nesta quinta-feira de um protesto em frente à Casa Branca e publicou um artigo no The New York Times em que assegura que os custos do tratamento hormonal são “uma desculpa esfarrapada”, já que o Pentágono “esbanja bilhões de dólares por dia em projetos que são cancelados ou não funcionam”.
As Forças Armadas dos Estados Unidos se abriram “com efeito imediato” aos transexuais em junho de 2016 por decisão de Obama, e seu recrutamento deveria começar em janeiro do ano que vem.
Estima-se que atualmente haja cerca de 6.600 transexuais servindo nas Forças Armadas americanas, cujo futuro ficou no limbo após o anúncio de Trump. (Com agências internacionais)