O programa partidário do PSDB, veiculado na última semana, parece ter sido o estopim de uma cizânia no tucanato, mas a legenda vive rachada desde sua criação, sem qualquer possibilidade de consenso entre os frequentadores do ninho tucano.
Famosos em sua maioria pela soberba e principalmente pelo fato de estarem sempre “em cima do muro”, os tucanos decidiram escancarar a disputa interna, que ganhou combustível extra com o envolvimento do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do partido, em escândalos de corrupção.
Com o afastamento de Aécio, o comando do partido foi entregue interinamente ao senador Tasso Jereissati (CE), que assumiu a responsabilidade pelo fatídico programa partidário e agora resolveu arregaçar os punhos de renda e ir para o confronto. Ou seja, Tasso vinha se comportando como um interino de fato, mas resolveu enfrentar a tudo e a todos, como se estivesse a dizer que está disposto a assumir a presidência do partido de forma definitiva.
Essa postura de Tasso Jereissati interessa ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que trabalha nos bastidores para ser o presidenciável do partido em 2018. Para que esse cenário migre das raias das conjecturas políticas e migre para a seara da realidade, Alckmin terá de conquistar a simpatia de tucanos de outras unidades, o que não está acontecendo. Na verdade, o governador paulista está querendo tomar o PSDB de assalto, a partir de uma rebelião de parlamentares na Câmara dos Deputados liderada pelos chamados “cabeças pretas”.
Fazendo o jogo de Alckmin, o senador Tasso Jereissati tem se prestado a papel que não cabe a um senador da República: o de confrontar Aécio Neves, que ainda tenta manter o controle sobre o partido. Em entrevista à rádio Jovem Pan, nesta terça-feira (22), Jereissati disse que Aécio pode retornar à presidência do partido a qualquer momento e nomear novo interino.
Como Aécio Neves está enrolado na Operação Lava-Jato e foi flagrado cobrando propina do empresário Joesley Batista, qualquer decisão mais radical em relação ao PSDB é considerada difícil, mas não impossível. Até porque, se isso ocorresse, a desmoralização do partido seria enorme e definitiva.
Enquanto a intifada quase silenciosa domina as coxias tucanas, o prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador Geraldo Alckmin duelam de forma fira e calculada, tendo o Palácio do Planalto como pano de fundo.
A grande questão é que o PSDB está severamente desgastado por causas dos escândalos e pouco tem a oferecer e prometer ao eleitorado nacional. A dúvida está na escolha do melhor candidato tucano à Presidência. Se por um lado o prefeito João Doria é “cristão novo” na política, por outro o governador Geraldo Alckmin tem condições de sobra para levar o PSDB a pique.