(*) Carlos Brickmann
Choque entre poderes: a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal impôs ao senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, algumas medidas cautelares – por exemplo, obrigá-lo a passar a noite em casa. Na prática, sem que o senador tenha sido julgado e condenado, é obrigado a cumprir medidas que dificultam o exercício de seu mandato. O Senado ameaçou reagir, mas se acalmou quando o plenário do Supremo, mais poderoso que uma turma, resolveu analisar o caso. O julgamento é hoje. Se o plenário mantiver a decisão, o STF entrará em choque com a Advocacia Geral da União, ligada ao Executivo, e o Congresso: ambos, citando a Constituição, sustentam que parlamentares só podem ser presos em flagrante e por crime inafiançável. No próprio STF há ministros em favor dessa tese.
Choque entre poderes? Como diria um famoso líder político, menas, menas. A AGU é ligada ao Executivo, mas não é todo o Executivo. O STF já tem a postos a turma do deixa-disso. E o julgamento do Supremo gira em torno de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta por três partidos que fizeram parte dos Governos Lula e Dilma: PP, Solidariedade e PSC (e que, a propósito, também fazem parte do Governo Temer) – o que indica que falam em nome de todos. Os partidos defendem a tese de que tudo que atinja mandatos tem de ser examinado pela Casa em 24 horas.
Palpite deste colunista: entre mortos e feridos, salvam-se todos.
Análise a frio
Por mais que alguém não goste de Aécio (e por melhores que sejam os motivos para isso), é difícil entender a obrigação de ficar em casa à noite. Como medida cautelar, é estranha: Aécio representa algum perigo ficando fora de casa? Qual perigo? Aécio, ao que se saiba, tem pago suas despesas noturnas e não tem dirigido depois de pagá-las. Ou então é antecipação de pena – pena que só poderia ser-lhe imposta após o julgamento.
Gelo morno
A segunda denúncia do ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer também não deve provocar tumulto institucional. Temer, não esqueçamos, foi deputado por seis mandatos e exerceu por três vezes a Presidência da Câmara. Em resumo, conhece o jogo e o ambiente. Não é fácil vencê-lo na área que melhor domina. E ele trabalha duro: distribui cargos, convence partidos a escolher deputados amigos para as votações importantes, abre esperanças para quem ainda não foi contemplado ou acha que recebeu pouco.
Imoral? Claro. Mas, em política, imoral mesmo é ser derrotado.
Irmãos camaradas
A guerra santa entre João Dória Jr. e Alberto Goldman só poderia ocorrer no PSDB, um partido de amigos formado apenas por inimigos. Goldman, como seus aliados Serra e Andrea Matarazzo, não engoliu a vitória de Dória, apoiado por Alckmin, nas prévias do partido. E, nove meses após sua posse, disse que Dória como prefeito nem tinha nascido.
Dória reagiu dizendo que Goldman era fracassado e vivia de pijama em casa. Goldman disse que era velho mas não velhaco. Ufa! para ouvir alguém falar bem de tucanos, só mesmo procurando inimigos. Se o caro leitor não acredita, basta procurar algum tucano que defenda o senador Aécio Neves.
Amores odiados
Se ambos pensassem mais, talvez tivessem ofensas mais sólidas para dirigir um ao outro. Goldman errou ao dizer que Dória não tem ligação com o PSDB, Dória era ligado a um tucano de raiz, o governador Montoro, e trabalhou com outro tucano bicudo, o prefeito e governador Mário Covas. Na época, quem não era tucano era Goldman, escudeiro do governador Quércia, responsável pela saída de Montoro e Covas do PMDB. E Dória errou ao dizer que Goldman está aposentado. Tem 80 anos, vinte mais que Dória, e é incansável como ativista tucano. Para o bem ou para o mal.
El nombre del hombre
Dória levou um susto ao ver sua avaliação como prefeito cair, sem que suas intenções de voto para a Presidência subissem em outras regiões do país. Poderia recuar, dizer que jamais se proclamou candidato, que todos os seus esforços foram feitos para eleger Alckmin. Ninguém iria acreditar, mas quem acredita em políticos? Vai continuar, pelo mesmo motivo que levou Ulysses Guimarães a se candidatar em 1989, com os índices lá em baixo: era sua única chance. Talvez marque mais presença em São Paulo, em especial quando iniciativas suas de privatização derem certo. E manterá o ritmo de viagens.
Eleger-se é outra coisa – e quem pode se eleger por um partido em que os aliados são seus irmãos de sangue, e querem bebê-lo?
A hora de Bolsonaro
Jair Bolsonaro tem tudo para repetir a trajetória de Marina Silva: sai na ponta e chega na ponta, só que na outra ponta. Há entrevistas gravadas em que defende a tortura (com estas palavras) e diz que sonega impostos.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.