Entre fazer uma acusação e provar o delito mencionado há uma abissal diferença. Mesmo assim, com a política nacional fervilhando sobre a caldeira de escândalos de corrupção e outros crimes, qualquer declaração mais condimentada provoca um estrago descomunal.
Trancafiado em Curitiba por decisão do juiz Sérgio Moro, desde que foi preso em 26 de setembro de 2016 na esteira da Operação Omertà (35ª fase da Operação Lava-Jato), o ex-petista Antonio Palocci Filho teria revelado aos integrantes da força-tarefa dado comprometedor acerca de Lula. Segundo Palocci, o ex-ditador líbio Muamar al-Gaddafi, capturado e morto em 2011, despejou US$ 1 milhão na primeira campanha presidencial bem sucedida de Lula (2002).
Palocci negocia um arrastado acordo de colaboração premiada e por isso não pode faltar com a verdade ao longo do processo, assim como precisa revelar fatos passiveis de comprovação. Ninguém duvida que a campanha de Lula de 2002 recebeu doações vindas do exterior, até porque os empréstimos concedidos ao PT pelo finado Banco Rural continuam na vala da estranheza, mas é preciso investigar a denúncia para, em algum momento, processar e condenar os envolvidos em crime que afronta o Código Eleitoral.
A denúncia é grave, mas cabe à Justiça Eleitoral decidir sobre o escândalo, desde que devidamente provocada. No caso compete ao Ministério Público Eleitoral entrar em ação, sendo que ao final do processo o Partido dos Trabalhadores poderá ter o registro cassado.
Não é preciso nenhuma dose extra de raciocínio para perceber que a Justiça Eleitoral brasileira, sempre de olhos fechados para o óbvio, nada fará para punir os eventuais culpados, ainda que sua ação dependa de manifestação do MPE.
Para que ninguém alimente esperanças além dos níveis normais para a dura realidade brasileira, não custa lembrar o episódio envolvendo o marqueteiro baiano Duda Mendonça, responsável pela campanha de Lula em 2002. Em depoimento à CPMI dos Correios, o marqueteiro disse a deputados e senadores que recebeu parte dos honorários em uma conta offshore, aberta em paraíso fiscal sob o nome “Düsseldorf” e por sugestão do publicitário Marcos Valério, condenado à prisão no escândalo do Mensalão do PT.
Naquele momento, a Justiça Eleitoral e o Ministério Público Eleitoral tiveram a oportunidade de iniciar processo objetivando a cassação da chapa de Lula e também o registro do PT, mas nada foi feito, porque à época surgiu a tese esdrúxula de que era preciso manter a governabilidade do País. Lula sequer foi incomodado por esse episódio criminoso, permaneceu no poder e, reeleito, ancorou o maior e mais ousado esquema de corrupção da história da Humanidade, o Petrolão.