Gostem ou não os brasileiros, as campanhas visando a disputa pela Presidência da República já estão em marcha, apesar de a legislação eleitoral proibir esse movimento antecipado. Um dos postulantes ao cargo que não assume a própria candidatura é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que pode enfrentar sérias dificuldades na corrida ao Palácio do Planalto.
Guindado à presidência nacional do PSDB para tentar minimizar o histórico racha na legenda, Alckmin encontra-se em encruzilhada eleitoral, se analisados os múltiplos fatores que pesam contra sua candidatura.
Sem a necessária penetração no Nordeste, Alckmin deveria apoiar a candidatura de Márcio França (PSB), vice-governador de São Paulo, ao comando do Palácio dos Bandeirantes, caso queira contar com o apoio do PSB, partido que funciona a partir de Pernambuco, terra do finado Eduardo Campos.
Disposto a lançar o prefeito João Agripino Doria ao governo paulista, Alckmin cria um problema para a própria candidatura. Além de criar uma zona de atrito com o PSB, o alcaide paulistano caiu em desgraça junto ao eleitorado da maior cidade brasileira. Tal situação pode levar o PSDB a encolher no principal estado da federação. Quem esfrega as mãos enquanto aguarda a desincompatibilização de Doria para concorrer ao governo estadual é o vice Bruno Covas, que receberá a prefeitura paulistana sem qualquer dose de esforço .
A situação do PSDB no âmbito nacional tende a piorar com o passar do tempo, pois a 48ª fase da Operação Lava-Jato mirou o governo do Paraná, comandado pelo tucano Beto Richa. A ação da Polícia Federal prendeu um assessor da Casa Civil do governo paranaense, o que impede Richa de alegar que desconhecia os desmandos do alarife que cobrava propina das concessionárias de rodovias estaduais.
Sem a simpatia dos nordestinos, Geraldo Alckmin enfrenta a resistência dos sulistas, que tende a aumentar com os efeitos colaterais da operação da PF que avançou sobre o governo Paraná. Mesmo com Beto Richa alegando que exonerou o acusado de corrupção e determinou a abertura de investigação interna, o escândalo certamente produzirá efeitos no âmbito nacional. O que é ruim para as pretensões de Alckmin.
Ainda na região Sul, o governador paulista tem outro empecilho no seu projeto de chegar ao comando do País. O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) deixou o PSDB antes de ser chamuscado pelas bizarrices tucanas no Paraná. E o senador conta com a simpatia de boa parte do eleitorado do Sul do País.
Como se esse emaranhado de escândalos fosse pouco, o PSDB volta a conviver com a aterrorizante possibilidade de Paulo Vieira de Souza, conhecido como “Paulo Preto”, aderir à delação premiada. Ex-presidente da Dersa, Paulo Preto é acusado de manter em banco suíço a fortuna de R$ 113 milhões, dinheiro possivelmente proveniente de propinas pagas no escopo das obras do Rodoanel. A informação sobre a conta bancária foi enviada às autoridades brasileiras pelo Ministério Público da Suíça.
Paulo Preto, que é acusado de ser o operador financeiro do senador José Serra (PSDB-SP), vinha negociando acordo de colaboração premiada em 2017, mas em novembro passado abandonou as tratativas, possivelmente porque foi pressionado por tucanos de fina plumagem.
Esse tabuleiro de escândalos de corrupção tem ingredientes de sobra para levar o PSDB a uma das mais sonoras derrotas na história da legenda. Afinal, a opinião pública está cada vez mais intolerante com partidos que abrigam corruptos. Ou seja, a possibilidade de Alckmin ser derrotado nas urnas é muito maior do que se imagina.
Caso o desejo de Geraldo Alckmin seja manter o status político, o melhor a fazer é deixar o PSDB se arrebentar nas eleições gerais de outubro próximo e concorrer ao Senado Federal. Alguém há de questionar esse raciocínio, mas o cargo de senador da República não é pouca coisa. Além disso, Alckmin chegaria ao Senado com 66 anos e a reboque de mandato de oito anos.
De quebra, Geraldo Alckmin se livraria do “abacaxi” em que se transformou a economia nacional, que o próximo presidente da República terá de descascar, querendo ou não.
Ademais, como senador – e com a experiência amealhada no Palácio dos Bandeirantes – Alckmin seria muito mais produtivo do que como presidente, que tem à espera uma escrivaninha palaciana repleta de problemas. Não se trata de jogar a toalha, mas de analisar o cenário atual sem vaidade e com inteligência política.