Deflagrada na última quinta-feira (3), a Operação “Câmbio, Desligo”, desdobramento da Lava-Jato, mirou uma rede de doleiros responsáveis por operar US$ 1,6 bilhão através de um sistema ilegal de transferência de recursos ao exterior.
Os envolvidos no esquema liderado por Dario Messer, chamado de “doleiro dos doleiros”, reunia operadores do mercado negro de dólar que usavam codinomes sugestivos e complexos. A operação acabou por prender 33 pessoas, mas alguns dos principais integrantes da quadrilha estão foragidos. Autoridades paraguaias auxiliaram na busca pelos doleiros alçados à mira da Justiça do Brasil.
A “Câmbio, Desligo” tornou-se possível a partir da delação dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o “Juca Bala”, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, presos em 2017 no Uruguai e que detalharam aos investigadores o mecanismo das remessas ilegais de dinheiro ao exterior.
Juca Bala e Tony eram integrantes de esquema ilegal de remessa de recursos ao exterior que envolvia o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (MDB), e revelaram a existência de um sistema chamado Bank Drop, composto por 3 mil offshores em 52 países, com as respectivas contas bancárias, e que movimentou US$ 1,6 bilhão.
Para consumar as transações ilícitas, os doleiros contavam colaboradores espalhados ao redor do planeta e usavam dois sistemas bancários informatizados próprios, o “BankDrop” e o “ST”, que funcionavam à margem do sistema financeiro oficial.
O “BankDrop” guardava detalhes das operações no exterior. O “ST”, por sua vez, funcionava como conta corrente, detalhando operações de compra e venda com dados de contas bancárias, beneficiários, datas e valores, inclusive das transações internacionais.
Remessas para Al Qaeda
O objetivo da “Câmbio, Desligo” é decifrar o esquema de pagamento de propinas ao MDB, mas os investigadores correm o risco (sic) de descobrir operações criminosas assustadoras, algumas realizadas a partir da chamada Tríplice Fronteira e que faziam parada obrigatória em determinada casa de câmbio da cidade de São Paulo.
Um dos integrantes da pirâmide criminosa liderada por Dario Messer atuava no mercado de câmbio há décadas e também está foragido. Nascido em família tradicional paulistana, frequentador de bons lugares e com excelente formação escolar, o tal doleiro manteve durante anos uma rede de casas de câmbio, que nos bastidores fazia operações ilícitas no mercado negro de dólar.
Entre essas operações constam transferências de recursos para a rede terrorista Al Qaeda, a partir de remessas feitas por simpatizantes do grupo então liderado por Osama bin Laden. Em 2003, o editor do UCHO.INFO descobriu a ação criminosa e por e-mail comunicou o Consulado dos Estados Unidos em São Paulo.
O representante consular americano, que pouco interesse manifestou em relação ao assunto, respondeu afirmando que era necessário detalhar o esquema em documento devidamente assinado e entregue pessoalmente. Ou seja, os EUA não quiseram investigar informações sobre sistema de transferência de recursos para a organização terrorista que protagonizou o maior atentado da história, em 11 de setembro de 2001.
Naquele ano (2003), policiais paulistas, talvez na esteira de alguma informação de alcaguetes, identificaram movimentações suspeitas na tal casa de câmbio. O doleiro, que continua em fuga, pagou à época, a policiais de uma delegacia da zona oeste da cidade de São Paulo, R$ 800 mil para que a investigação não fosse adiante. E diante dessa dinheirama o assunto caiu no esquecimento.
O dono da casa de câmbio, que funcionava com autorização do Banco Central, usava um sistema ilícito de outro criminoso, que comandava uma rede de empresas de fachada, criadas exclusivamente para a emissão de notas fiscais e de documentos de importação e importação. Em outras palavras, exportações e importações fictícias, chanceladas pelo governo brasileiro, emprestaram aparente legalidade às transferências para a rede Al Qaeda.