Entra eleição, sai eleição, mas os políticos continuam valendo-se do oportunismo barato. Seja em benefício próprio, seja para ajudar algum correligionário ou aliado em campanha. E para tanto a imaginação corre solta, até porque a atenção do brasileiro com as coisas da política é próxima de zero.
Nessa toada está agindo o prefeito da maior cidade brasileira, São Paulo, que tem um sem fim de questões importantes a serem resolvidas. No afã de mostrar ao eleitorado que o PSDB pensa no cidadão em todos os sentidos, o tucano Bruno Covas decidiu se debruçar sobre uma questão menor: os portões de casas e edifícios que avançam sobre as calcadas por ocasião da abertura e do fechamento.
Essa preocupação esdrúxula se deve ao fato de que os portões, por alguns ínfimos instantes, impedem a passagem de pedestres. Covas determinou que em no máximo seis meses os proprietários de imóveis com portões nessas condições terão de adequar o equipamento, sob pena de, após esse prazo, estarem sujeitos a multa. E nessa determinação se enquadram não apenas os portões mais antigos, mas também os novos.
Quem visita a cidade de São Paulo com regularidade não demora a perceber o abandono em que se encontra a capital paulista, que durante quinze meses e seis dias foi comandada pelo gazeteiro João Agripino da Costa Doria Junior, especialista em “fazer espuma” quando o assunto é gestão pública.
Há na administração paulistana assuntos mais sérios que deveriam ter a atenção de Bruno Covas, que prefere fechar os olhos a reboque de conveniência duvidosa. Um desses temas é o rumoroso escândalo que embalou a PPP da Iluminação Pública, suspensa por ordem judicial em virtude de grave denúncia de corrupção.
Apesar da denúncia de corrupção, Doria, que sempre soube do esquema ilegal, manteve a decisão de assinar o contrato com o consórcio declarado vencedor – FM Rodrigues/Consladel. O escárnio é tamanho, que a empresa Iluminação Paulistana foi constituída às pressas pelo tal consórcio vencedor na modalidade “Limitada”, enquanto o edital de licitação exigia que fosse uma Sociedade Anônima.
O edital de licitação exigia que no ato da formalização da parceria público-privada o consórcio vencedor deveria apresentar as garantias necessárias para respaldar um contrato de prestação de serviços no valor de mais de R$ 7 bilhões, por vinte anos. Mesmo diante dessa exigência, a garantia foi apresentada após a assinatura do contrato. Ou seja, Bruno Covas tem para se preocupar pelo menos um assunto mais importante que o dos portões.
Como se não bastasse, Covas, talvez cumprindo ordem expressa de Doria, transferiu Marcos Penido da Secretaria Municipal de Serviços e Obras (SSO) para a Secretaria das Prefeituras Regionais (SPR), pasta ocupada anteriormente pelo atual prefeito, até ele se desentender com o antecessor. Para quem não sabe ou não se recorda, Penido foi acusado pela então diretora do Ilume de receber propina da Eletropaulo, assunto que está sob investigação do Ministério Público paulista.
A quizila não está na transferência de Penido para a SPR, mas no fato de o secretário ter levado para a nova pasta o processo licitatório da PPP da Iluminação. Mas é preciso destacar que Penido sempre soube das ilicitudes que marcaram a licitação da PPP, mantendo-se calado o tempo todo. Tal quadro permite pensar que há algo estranho nos bastidores do tucanato paulistano.
Voltando à polemica dos portões… Se de fato Bruno Covas está preocupado com o livre trânsito dos pedestres pelas calçadas, o melhor seria proibir que bares e restaurantes esparramem mesas e cadeiras no passeio público. Sem contar que alguns estabelecimentos decidiram ocupar definitivamente e de maneira disfarçada as calçadas, transformando em privado aquilo que é público.
Para a infelicidade das próximas gerações, o Brasil está cada vez mais doente. Tanto é assim, que nas maiores cidades brasileiras o que mais se vê são farmácias e bares – ou o cidadão bebe sem saber o motivo ou corre para comprar remédio desconhecendo a razão. Triste, muito triste!
Bom seria se em vez de se preocupar com os portões que interrompem por alguns segundos o caminho dos pedestres, o prefeito de São Paulo criasse coragem para enfrentar os donos de bares, restaurantes e assemelhados. Ou, então, se dispusesse a explicar com direito a minúcias a sequência de truques que marcou a PPP da Iluminação. Com a palavra, o prefeito Bruno Covas!