Diretor de redação do jornal “Folha de S.Paulo”, Otavio Frias Filho morreu nesta terça-feira (21), aos 61 anos, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, no Centro da capital, e lutava contra um tumor no pâncreas desde 2017.
Primogênito de Dagmar Frias de Oliveira e de Octavio Frias de Oliveira, empresário que comprou a “Folha” no início da década de 60, Frias Filho nasceu em São Paulo no dia 7 de junho de 1957. Estudou Direito e Ciências Sociais, assumindo a direção de redação do jornal aos 26 anos. Foi responsável pela criação do Projeto Folha, do Manual de Redação e da função de ombudsman, até então uma novidade na imprensa brasileira.
Sob a direção de Otavio Frias Filho, a Folha tornou-se o maior e mais influente jornal do País, líder em circulação e referência no jornalismo apartidário, pluralista, crítico e independente.
Frias Filho conquistou o Prêmio Maria Moors Cabot de Jornalismo, da Universidade de Colúmbia (EUA), pela contribuição da Folha à liberdade de imprensa. Em seu discurso de agradecimento, em cerimônia em Nova York em 1991, Otavio defendeu o jornalismo como instrumento para defender as democracias do Terceiro Mundo. “Nos limites estreitos do jornalismo, a contribuição que está a nosso alcance é simples e difícil de se obter. Trata-se de cultivar a exatidão impessoal e o respeito à pluralidade de pontos de vista em meio a uma cultura onde é fraca a separação entre o público e o particular. De informar com competência técnica num País subdesenvolvido. De fomentar o espírito crítico numa sociedade de tradição autoritária.”, disse o jornalista.
No teatro, Frias Filho foi autor de seis peças, três publicadas em livro, juntamente com ensaios sobre cultura (Tutankaton, Editora Iluminuras, 1991), quatro encenadas em São Paulo: Típico Romântico (1992), Rancor (1993), Don Juan (1995) e Sonho de Núpcias (2002). Publicou também Queda Livre (Companhia das Letras, 2003), em reuniu o que chamou de “investigações participativas”: sete reportagens ensaísticas sobre experiências de risco psicológico. Em tom literário, com textos em primeira pessoa, ele contou experiências como saltar de paraquedas, experimentar ayahuasca no Acre, visitas a clube de trocas de casais e sadomasoquismo, e ainda sobre peregrinação em Santiago de Compostela, na Espanha.
Casado com Fernanda Diamant, editora da revista “Quatro Cinco Um”, deixa duas filhas, Miranda e Emília, e os irmãos Luiz, Maria Cristina e Maria Helena. O velório será no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e a cerimônia de cremação às 14h, no mesmo local.
Repercussão
O presidente Michel Temer disse que sob a direção de Otavio, a Folha “tornou-se palco dos grandes debates intelectuais do país”.
“Lamento a morte do jornalista Otavio Frias Filho. Sob sua direção, a @folha tornou-se palco dos grandes debates intelectuais do país, com pluralismo e diversidade de opiniões. Meus sinceros sentimentos à família, amigos e jornalistas da Folha por essa perda tão prematura.”
A Prefeitura de São Paulo lamentou a morte do jornalista
“A Prefeitura de São Paulo lamenta a morte do jornalista e escritor Otavio Frias Filho e se solidariza com sua família, amigos e leitores. Como diretor de redação da Folha de S.Paulo, por mais de 30 anos, foi um dos grandes responsáveis pela modernização do jornalismo brasileiro a partir dos anos 80. À frente do jornal, formou gerações de jornalistas e comunicadores. Sob seu comando, a Folha tornou-se um dos principais veículos de comunicação, sem jamais deixar de dar relevância à cidade que o abriga. Otavio Frias Filho era um paulistano. Prestou grande serviço a São Paulo”.
O governo do Estado de São Paulo também lamentou a morte do jornalista.
“Governador Márcio França lamenta o falecimento do Diretor de Redação da Folha de São Paulo. O arrojo e o brilho intelectual marcaram a atuação profissional de Otavio Frias Filho. São Paulo e o Brasil estavam no centro de suas preocupações. Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte de Otavio Frias Filho, jornalista, diretor de redação e diretor editorial do Grupo Folha. A abordagem objetiva e apartidária da política, da economia e da cultura que ele imprimiu trouxe prestígio e reconhecimento para o jornal. Ele deixa seu nome gravado na história da imprensa nacional. Sob seu comando, a Folha de São Paulo se tornou um dos mais influentes diários do hemisfério sul. Meus pensamentos e orações estão com sua viúva, filhos e irmãos”.
O Ministério dos Direitos Humanos divulgou nota de pesar:
“O Ministro Gustavo Rocha, ao tempo em que se solidariza com a família pela inestimável perda, ressalta que a atuação jornalística de Frias Filho muito contribuiu para consolidação de valores caros à democracia brasileira, notadamente o voto direto e a construção de uma imprensa de qualidade e que presa pela pluralidade de opiniões.”
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), por meio de seu presidente, Fernando Marcelo Mendes, manifestou “imenso pesar pelo falecimento do diretor de redação do jornal”:
“Transmitimos nossos sinceros sentimentos aos familiares nesse momento de dor com a perda desse grande jornalista. Em sua trajetória, Otavio Frias Filho sempre atuou com profissionalismo, equilíbrio e ética. Como publisher de um dos mais importantes veículos de comunicação do país, buscou manter linha editorial independente, responsável e dentro de um elevado padrão jornalístico.
Otavio Frias Filho não só honrou o legado deixado pelo pai, fundador do grupo Folha, como modernizou o jornal, ampliou o alcance, estimulou a cobertura crítica e o debate de ideias. Sempre abriu espaço para o contraditório, com respeito aos direitos individuais, coletivos e ao Estado Democrático de Direito.
O Brasil perde um grande empresário, cidadão e jornalista que, por mais de três décadas, se dedicou a levar informação relevante e de qualidade a todo o país por meio das páginas da Folha de S. Paulo.”
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) destacou, em nota assinada por Paulo Tonet Camargo, o legado deixado pelo jornalista:
“Otavio Frias deixa um exemplo de dedicação e profissionalismo pelo trabalho exercido ao longo de sua carreira, em especial, como diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo e diretor editorial do Grupo Folha.
Merece destaque o compromisso assumido com o jornalismo, sempre pautado na ética e na defesa da liberdade de imprensa e da democracia.
A ABERT presta solidariedade aos amigos, familiares e colegas de trabalho do jornalista neste momento de dor.”
Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamentou a morte do jornalista, lembrando que Frias foi responsável por deixar “profundas marcas na história da imprensa brasileira”.
“O papel fundamental do jornalismo na democracia, sobretudo em um País como o nosso, onde a tentação do autoritarismo está sempre tão presente, marcou o pensamento e a ação de Otávio Frias Filho. Ele sonhava com um País moderno, justo e civilizado, e enxergava no jornalismo sério e responsável uma ferramenta indispensável para a construção desse sonho”, afirmou a entidade.
A Ordem dos Advogados do Brasil destacou o fato de Otavio ter dado espaço ao contraditório e ao debate de ideias divergentes.
“Sem uma imprensa ativa e crítica, a democracia jamais poderá existir em sua plenitude. Lembraremos sempre da dedicação e empenho de Otavio Frias Filho ao jornalismo e à democracia por meio das páginas, impressas e virtuais, da Folha de S.Paulo.”
Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República, destacou, em nota, o talento do jornalista.
“Ao longo de 34 anos no comando editorial da Folha, buscou incessantemente fazer um jornalismo crítico, preciso, plural, perseguindo cotidianamente a excelência”, ressaltou. “Cala fundo a morte prematura de um homem com tanto talento e tantos serviços prestados ao Brasil”.
Marina Silva, candidata da Rede ao Palácio do Planalto, enfatizou em nota que a trajetória de Frias Filho foi marcada pelo compromisso com a pluralidade.
“Nestes tempos de ameaça à normalidade democrática brasileira, a falta de Otavio será especialmente sentida. Que Deus console e dê sustentação à família, aos amigos e aos colegas de trabalho”.