Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro já decidiu, e que ninguém ouse contestá-lo. O ataque a faca de que foi vítima em Juiz de Fora (MG, em 6 de setembro, foi um atentado político, o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, não agiu sozinho e recebeu dinheiro para executar um plano arquitetado pela esquerda, a Polícia Federal trabalha para abafar as investigações do caso.
Esse foi o script da entrevista de Bolsonaro ao jornalista Augusto Nunes, da rádio Jovem Pan e da revista Veja, ocasião em que o presidenciável, como sempre, abusou do dramalhão e derramou lágrimas. Comportamento questionável para alguém que, semanas atrás, às gargalhadas falava em fuzilar adversários políticos. Em outras palavras, até para fingir que não sofre de dissonância cognitiva Bolsonaro é fraco.
“No meu entender foi planejado, político, não tenho a menor dúvida. Me tirando de combate, você pega os três, quatro próximos da relação [de candidatos] e são muito parecidos”, disse Bolsonaro, entremeando momentos de choro.
Sobre a punição ao agressor, o presidenciável disse que “tem que ser o que está na lei”. Porém, Bolsonaro afirmou que “quando for presidente” equiparará as penas para tentativa de homicídio e homicídio. “Ele quase me matou. Porque a pena tem que ser diferente do homicídio em si? Vamos mudar isso quando for presidente”, completou.
Essa declaração de Bolsonaro mostra que depois de 28 anos na Câmara dos Deputados ele não conhece como funciona o Legislativo. Mudar uma lei não depende da vontade isolada do presidente da República. No caso em questão, trata-se de alterar o Código Penal, algo mais complexo. Em outras palavras, Jair Bolsonaro está jogando para a plateia, ciente de que esse discurso pode render votos.
Quase vinte dias após o ataque, a PF já investigou todos os dados relacionados ao crime, sem ter encontrado qualquer prova capaz de relacionar o agressor com uma terceira pessoa. O notebook apreendido pelos policiais federais é antigo e está quebrado, mas o respectivo risco rígido continua sob análise. Dos quatro celulares encontrados com Adélio, dois estão quebrados e outros dois são antigos e sem uso. O cartão de crédito internacional foi emitido pelo banco em que o agressor mantinha conta salário. O valor encontrado na conta era fruto de rescisão de contrato de trabalho. O dinheiro usado para pagar a pensão em Juiz de Fora tinha origem lícita.
Mesmo assim, nada disso convenceu Bolsonaro e seu entourage, que cada vez mais agarram-se à teoria da conspiração para levar adiante uma campanha que começa a enfrentar os efeitos colaterais do discurso do ódio e da intolerância. Nos últimos dias, o presidenciável tornou-se alvo de um crescente movimento de mulheres contra sua candidatura, que ganhou a adesão de atrizes e celebridades que adotaram #EleNao.
Jair Bolsonaro insiste em afirmar que as urnas eletrônicas são passiveis de fraude. Esse palavrório persiste há algumas semanas, sem que o candidato apresente alguma evidência da aludida vulnerabilidade das urnas de votação. A insistência do presidenciável em relação ao tema talvez seja uma forma de justificar previamente eventual derrota que começa a ser apontada pelos institutos de pesquisa, os quais não têm a simpatia do staff da campanha.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já negou a ocorrência de qualquer fraude comprovada no sistema de votação através das urnas eletrônicas. Além disso, o TSE abre aos partidos políticos o sistema de votação para que seja auditado. Muito estranhamente, Bolsonaro foi eleito por meio das urnas eletrônicas, assim como seus filhos, mas o candidato decide suspeitar do sistema eleitoral brasileiro apenas agora. Em relação à PF, o candidato contesta as investigações apenas porque os resultados não estão de acordo com suas necessidades.
Causa preocupação o fato de Bolsonaro colocar em xeque a idoneidade da Polícia Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, pois, caso eleito, na condição de presidente da República terá de conviver com ambos institucionalmente. E é preciso saber como isso se dará, já que no momento, como candidato, ele levanta suspeitas sem apresentar provas.
Mas há uma explicação para esse comportamento contestador. A mais recente pesquisa Ibope sobre a corrida presidencial, divulgada no começo da noite desta segunda-feira (24), Jair Bolsonaro aparece na primeira colocação com 28% das intenções de voto, mas, no momento, o candidato parece ter alcançado o teto. Em segundo aparece o petista Fernando Haddad, que cresceu três pontos percentuais desde o último levantamento do instituto e agora tem 22% de intenções de voto.
Em simulações de segundo turno, Bolsonaro perde para Fernando Haddad, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O candidato do PSL empata apenas com Marina Silva (Rede). O índice de rejeição de Bolsonaro saltou de 42% para 46%.