Entre a realidade e a promessa há uma enorme e sinuosa distância. E nesse percurso o presidente eleito, Jair Bolsonaro, quando oficialmente instalado no Palácio do Planalto, terá de enfrentar os efeitos colaterais de uma campanha que avançou à sombra do falso messianismo. O que não é novidade em se tratando de Brasil, onde mentir para o eleitorado é buscar o lugar comum.
Por mais genial e especialista que alguém seja no âmbito da economia, resolver os problemas econômicos do País exige o cumprimento de um missal que passa obrigatoriamente pelo ajuste fiscal, que por sua vez depende da reforma da Previdência. Ou seja, sem essa reforma teremos mais do mesmo, talvez algo pior do que aí está.
A proposta de reforma da Previdência apresentada pelo presidente Michel Temer, que sofreu “navalhadas” por parte de parlamentares interessados em agradar o eleitorado, não era o projeto dos sonhos, mas mesmo desidratada dá ao governo um folego de pelo menos dez anos. Em se tratando de país, uma década é nada em termos de tempo.
Diante da impossibilidade de aprovar a recortada reforma da Previdência e necessitando gerar um fato positivo, o que é natural no escopo governamental, Temer optou pela intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, impedindo a aprovação de qualquer proposta de alteração da Constituição. É o que determina a Carta Magna quando está em vigência uma intervenção federal.
Jair Bolsonaro, que nada entende de economia, já afirmou desconfiar da proposta de Paulo Guedes para a Previdência, que prevê uma espécie de capitalização por parte do contribuinte. Mas isso valeria para o futuro, pois é preciso criar um colchão de liquidez para os contribuintes que têm o chamado direito adquirido.
Pois bem, o que Bolsonaro propõe é um arremedo de reforma da Previdência, algo mais acanhado do que propôs Michel Temer. O presidente eleito sugere aumentar em apenas um ano a idade para a aposentadoria o que explica o discurso de que ninguém será prejudicado. Ora, nenhuma reforma dessa natureza avança sem causar prejuízos a setores da sociedade, que por sua vez precisam reconhecer a necessidade de sacrifícios em nome do País.
Se a proposta de Temer dá ao Brasil um fôlego de dez anos, a de Bolsonaro dá de no máximo três, com o detalhe de que 2019 deve ser considerado perdido, pois a matéria dificilmente será votada na atual legislatura. Isso porque é preciso que o atual presidente da República revogue a intervenção no Rio de Janeiro e o Congresso mostre disposição para retomar a discussão da matéria e sua consequente votação. Lembrando que a oposição promete endurecer ainda mais o jogo.
O ideal em termos econômicos seria uma reforma da Previdência que desse ao governo brasileiro condições de equilibrar o déficit fiscal e simultaneamente permitisse respirar por um período de trinta anos. É impossível fazer planejamento em termos de nação tendo como prazo período inferior ao mencionado.
Considerando que nesta terça-feira (6), em Brasília, ao ser questionado sobre a reforma da Previdência, Bolsonaro afirmou “não é a que queremos, é a que podemos aprovar”, qualquer expectativa de melhora da economia é devaneio. A razão é simples e está embasada na lógica. O crescimento econômico depende de investimento, que por sua vez é refém do déficit fiscal, que será equacionado no vácuo de consistente reforma da Previdência.
Sendo assim, como Bolsonaro já se dá por satisfeito com um “puxadinho de reforma” e seu “Posto Ipiranga” ainda não fez curso de ilusionista, o melhor é “jair se acostumando” com a dura realidade do momento, porque Messias mesmo apenas aquele que o presidente eleito carrega no nome.