(*) Carlos Brickmann
Se alguém duvidar do que vou contar, informo prudente: “Meninos, eu vi”. Vi Delfim Netto ser apontado como comunista – e o imagino, um dos homens fortes do regime militar, disfarçando para não ser desmascarado por gente para quem Gengis Khan já era esquerdista perigoso. Vi Fernando Henrique ser apontado como comunista por ter sido professor de marxismo. Vi o ministro da Educação de Bolsonaro, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, contar que foi trotsquista e militou em organizações que, para o regime militar, eram terroristas. Mas, se ter sido professor de marxismo basta para apontar FHC como comunista, atuar em grupos terroristas não afetou o ministro Ricardo Vélez Rodríguez.
Vi, pode crer, banqueiros e operadores financeiros da mais alta reputação internacional apontados como comunistas. Pelo jeito, enriquecem só para dar inveja aos mais pobres, estimulando-os à revolução comunista.
Nada de novo: vi esquerdistas boicotando Simonal, tentando boicotar Elis, vaiando Chico Buarque (sim, Chico Buarque! – e não foi uma vez só), fazendo passeatas contra guitarras “estrangeiras” na música brasileira e atacando agentes da americanização como Caetano e Gil. Novo é saber que Fernando Henrique, Delfim e banqueiros são ao mesmo tempo comunistas e fascistas, e que Sérgio Moro foi treinado pela CIA para evitar que os pobres brasileiros se misturem aos ricos nos aeroportos.
Meninos, eu vi.
Longes lembranças
Claro, parte do texto acima remete a I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias. E me lembra os anos de chumbo: se não me falha a memória, foi a primeira poesia publicada pelo Estadão no lugar de uma notícia censurada. A ideia (brilhante) dos poemas foi de Antônio Carvalho Mendes, Antoninho Boa Morte, responsável pela coluna de Necrologia do jornal.
Todos juntos
A denúncia do quadrilhão do PT, apresentada há mais de um ano pelo então procurador-geral Rodrigo Janot, foi aceita e transformada em ação penal por formação de organização criminosa pelo juiz Vallisney Oliveira. Os réus são Lula, Dilma, Palocci, Guido Mantega e João Vaccari Neto. Na denúncia, Janot diz que só na Petrobras o prejuízo desse esquema de corrupção foi de uns R$ 29 bilhões, de acordo com o Tribunal de Contas.
O Ministério que falta
O presidente da União Democrática Ruralista, UDR, Nabhan Garcia, vai para a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários – em princípio, cuida da reforma agrária, mas mantendo fora o MST. Só há um problema: Nabhan não gosta da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e é correspondido. Se os dois trabalharem juntos sem problemas será uma surpresa, já que Tereza comanda uma ala mais moderna do agronegócio.
Certa vez, Chico Buarque sugeriu aos governos petistas que criassem o Ministério do Vai dar Caca, que apontaria os problemas de cada solução – na verdade, “vai dar caca” é uma expressão mais gentil que a de Chico. Seria hoje uma ótima ideia.
A hora da verdade
E, por falar em problemas, o PSL, partido de Bolsonaro, segunda maior bancada da Câmara, sente-se prejudicado na distribuição de cargos. O presidente Bolsonaro diz que os cargos estão sendo preenchidos por gente de confiança, independentemente do partido a que pertençam. Mas o DEM tem três dessas pessoas de confiança – e até Joice Hasselman já protesta. É o primeiro grande teste da base parlamentar de Bolsonaro. Tem de ser uma base forte, para aprovar as reformas que o presidente diz que precisa fazer.
Boa notícia
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, conversando com empresários, disse que gostaria de reduzir a carga tributária de 36% a 25% em dez anos. A ideia e ótima – mas exige medidas que o Congresso aprove.
Retrato do Brasil
Francisco Gladyson Pontes, motorista do Tribunal de Justiça do Ceará, salário mensal de R$ 2.794,00, acaba de se aposentar. Sua aposentadoria é de R$ 26.900,00 reais mensais, incorporando salário, gratificações (entre elas, “por risco de vida” e “gratificação judiciária”) e benefícios diversos. Tudo direitinho dentro da lei, tudo já publicado no Diário Oficial.
Os bens da Aberje
A Justiça determinou, no dia 14, o arresto e penhora de bens da Aberje, Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, por descumprimento de decisão judicial. A Aberje está condenada a pagar dívidas trabalhistas de quase 15 anos atrás, o que levou agora à decisão da 73ª Vara do Trabalho do Fórum da Barra Funda, em São Paulo.
A Aberje, organização com mais de meio século, reúne as principais organizações empresariais do país, com o objetivo de aprimorar ações de comunicação, responsabilidade social, construção de marca e imagem, lobby e compliance.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.