Que Jair Bolsonaro “militarizaria” ao máximo o seu futuro governo todos sabiam, mas a indicação de militares para o comando de determinadas pastas é falta de bom senso democrático. A mais recente indicação do presidente eleito, anunciada pelo Twitter, é a do general reformado Carlos Alberto dos Santos Cruz para comandar a Secretaria de Governo.
General de divisão da reserva, Santos Cruz é o quarto militar indicado por Bolsonaro para integrar seu futuro governo. Os outros militares são: general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), general Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Outro militar integra o núcleo duro do futuro governo: o general Hamilton Mourão, vice-presidente eleito.
Atualmente comandada pelo ministro Carlos Marun, a Secretaria de Governo, que manterá o status de ministério, tem como principal atribuição a articulação do governo com o Congresso Nacional.
Considerando que o futuro governo terá pela frente desafios enormes, como, por exemplo, a aprovação da reforma da Previdência, entre outros tantos, deixar as negociações com o Congresso a cargo de um militar já é considerada uma decisão irresponsável em termos políticos, pois o clima a partir de fevereiro no Parlamento não será dos mais tranquilos.
Quem conhece a política nacional em suas minúcias sabe que negociar com um Congresso fragmentado, como será na próxima legislatura, não é tarefa fácil e exigirá do articular do governo excesso de habilidade e disposição para recuos e concessões. De chofre, a formação militar não tem como baliza tais premissas.
Para dificultar um cenário político que por antecipação já considerado difícil, a Casa Civil será comandada pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), conhecido por ser “pavio curto” e dado a declarações polêmicas em relação aos colegas de Parlamento. No final de 2016, quando o Congresso discutia o pacote de medidas contra a corrupção, Lorenzoni chamou o senador Renan Calheiros de “bandido”.
A questão não é defender um e acusar outro, mas de saber o quanto o “cabo de guerra” estica no Congresso quando o governo necessita aprovar determinada matéria. E não será com um general à frente das negociações palacianas que a queda de braços será “menos difícil”, pelo contrário.