(*) Ipojuca Pontes
Estando de viagem marcada, aproveitei a oportunidade e tomei providência que já devia ter tomado há muito tempo: encerrar a assinatura do Globo. A funcionária do setor insistiu para que voltasse atrás, mas não teve êxito. Então, passou a linha para outra funcionária afiançar que, em caso de viagem ao exterior, O Globo tinha “serviço internacional”. Se eu tivesse Smartfone… Cortei o papo em cima da bucha:
– Não uso celular – e desliguei o telefone.
Minhas relações com O Globo datavam de um pré-tempo sem memória. Em 1965, quando era repórter do Diário Carioca, por vezes cobrindo o Ministério da Justiça de Juracy Magalhães e assinando crítica de cinema, o secretário de redação era o respeitável Deodato Maia, figura sólida, de bigode denso e olhar agudo. O DC, que tinha mudado os padrões da moderna imprensa brasileira (“O máximo de jornal no mínimo de espaço”), fechou no dia 31 de dezembro, deixando veteranos do porte de Prudente de Moraes Neto, Antonio Bento, Renato Jobim, Sebastião Nery, José Auto, Carlos Alberto Oliveira (Cao), Milton Coelho da Graça, Ivan Lessa, Hélio Pólvora etc. – a ver navios.
Dias depois, no meio da zorra carioca, recebi recado de Deodato: ele iria exercer cargo de chefia na redação do Globo e estava convidando gente do extinto DC para trabalhar por lá, inclusive eu. Pensei, pensei, mas recusei o convite. E agradeci penhorado o gesto do ex-chefe. Meu caso, dali em diante, era fazer cinema, para o qual – julgava – havia nascido.
O segundo episódio data de 1989. Publiquei no Estado do S. Paulo, onde escrevia por obra e graça do Júlio Mesquita Neto, o artigo “Engenheiro do Caos”, traçando o perfil do sub-caudilho Leonel Brizola. No outro dia, Roberto Marinho, com a adesão de Evandro Carlos de Andrade, diretor de O Globo, transcreveu com destaque o artigo do Estadão. Tudo, sem pedir autorização ou agradecer.
Em outra fase, quando escrevia no Jornal da Tarde, o pessoal da editoria do Globo passou a me telefonar, todos os dias, pedindo opinião sobre o que achava do noticiário local, internacional, os editoriais, a feição gráfica e até mesmo a foto escolhida para a 1ª página. Achava aquilo natural e manifestava, de graça, minhas observações, pois era assinante do jornal.
Por sua vez, o pessoal do engajado 2º Caderno, que tem no “meio mafioso” Barretão um padrão de decência no cinema caboclo, me apontava como o malvado coveiro da corrupta Embrafilme (de fato, uma das boas coisas que ajudei a fazer na vida).
Pois bem: certo dia, um redator amestrado informou que “Pedro Mico” jamais tinha sido exibido no Rio de Janeiro. Com paciência, juntei notas colhidas no próprio Globo, provando que o filme tinha sido exibido em circuito de 9 cinemas, durante várias semanas, com aplausos do mesmo 2º Caderno, além de mencionar as vendas internacionais do filme. O Globo enfiou a viola no saco e desmentiu a nota de um certo Hugo sei lá o quê. No dia seguinte, quando seu pessoal telefonou pedindo meus comentários, advinha só pra onde mandei eles irem?
De lá pra cá, o ex-jornal de Roberto Marinho (renegado, depois de morto, por editorial apoiando o “contragolpe” de 64) degringolou de vez. Tornou-se o anti-jornal, tocado por militantes 100% esquerdistas, viciados em distorcer os fatos, totalmente alheios à missão de informar. A coisa chegou a tal ponto que levas de leitores, sobretudo a partir do tratamento infamante dispensado a Jair Bolsonaro e seus filhos, estão cancelando suas assinaturas e dando um chega pra lá no jornal e sua patota vermelha.
Tomo aqui a liberdade de transcrever diálogo entre uma funcionária do jornal e um ex-assinante, a partir de áudio divulgado no site do Jornal da Cidade:
– Meu nome é Geisa, eu gostaria de falar por gentileza, com o Sr. Denílson.
D – É ele.
G – Sr. Denílson, eu estou como contato aqui do jornal O Globo a respeito de uma assinatura…
D – Sim.
G – O sr. chegou a mencionar que o cancelamento foi por causa da linha editorial, não foi isso?
D – Sim.
G – Eu estou entrando em contato, sr. Denílson, justamente para passar um feedback que está tendo várias reuniões para tratar dessa insatisfação que não é só do senhor. Os colunistas, principalmente, estão sendo alinhados. Nós gostaríamos dizer, antes do sr. encerrar a assinatura, que a gente está preocupada com a opinião dos nossos assinantes. E como há um acesso digital, o que é que a gente pensou? Sabemos que não é nada relacionado com valor, mas a gente pensou em deixar a assinatura durante os próximos 6 meses, sem fidelidade, por R$ 5,90. Dê um voto de confiança ao jornal… Em fevereiro o sr. vai notar alguma diferença porque a gente já está tendo mudanças… O Merval está se comportando de forma imparcial, o Gabeira é como sempre foi, a Miriam está mais focada em conteúdo de economia… Se o senhor achar que não tem mudança nenhuma, em março o sr. se comunica com a gente.
D – Não, não quero.
G – E se a gente conseguir por R$ 1,90 só para o sr. acompanhar o site?
D – Não quero.
Não sei se O Globo contestou ou não o áudio acima transcrito e abreviado (ainda exposto no site do Jornal da Cidade). É provável que o faça. Mas o fato é que no fim de 2018 o setor jornalístico do Globo, devido a crise que lá se instalou, demitiu cerca de 70 funcionários nas áreas de redação, fotografia e jornalismo on-line. Até o correto Arthur Dapieve, cria da casa, foi dispensado.
(Mencionei 2018, mas o fato é que já em 2006, a Globo Comunicação e Participações foi intimada a pagar R$ 2 bilhões à Receita Federal pelo envolvimento nos escândalos de sonegação fiscal, criação de empresas de fachada no exterior e manobras contratuais para transmissões de jogos de futebol, consideradas proibidas. Detalhe: dos R$ 2 bilhões, só houve o resgate da metade, restando a dívida de RS 1 bi, razão da ação judicial movida pela RF contra a Globo Comunicação).
Para completar, registre-se o empenho do Presidente Bolsonaro em estabelecer novos parâmetros, num país em bancarrota, para distribuição de verbas publicitárias do governo, principalmente na área televisiva, onde a Globo absorvia, sozinha, cerca de 60% dos bilionários recursos do setor – isto nos governos Lula/Dilma/Temer, tidos como vítimas da TV dos irmãos Marinho.
Resultado: o desespero tomou conta da Vênus Platinada e a saída seria pressionar, de forma sistemática, o Presidente e seus ministros. Com que fim?
Vejamos o que revela um áudio de funcionário da Globo sobre o cerco a Bolsonaro, vazado na Internet:
– A ordem das editorias é pra descer o pau no Bolsonaro em assuntos que possam remeter o nome dele para a população ficar batendo que o cara é homofóbico, que o cara é nazista… O cara não é nada disso. E muita gente aqui está sendo perseguida porque votou nele. A coisa está ficando feia. A Globo abriu pra seu exército de atrizes e de atores falar contra Bolsonaro… tá tudo certinho, entendeu? Qualquer coisa que possa acontecer de ruim no País é culpa do Bolsonaro, principalmente na Globo News… Tá ficando um negócio nojento.
– Realmente, eles estão com muito medo. Eles sabem que não têm a mesma força que tinham no passado. A Globo não contava com a força do Facebook, do Instagram… O maior medo é do WhatsApp, porque o WhatsApp você não controla. E se eles tentarem controlar o whats App … neguinho vai entrar por outro aplicativo… É esse o maior medo. O Jornal Nacional, que dava 40 pontos de audiência, está dando 12 em certas praças. Ninguém está suportando mais. E o pior é se Bolsonaro abrir a caixa preta da Globo…
De minha parte, considero que o jornalismo impresso tem os seus dias contados, especialmente o jornalismo tendencioso: Internet, redes sociais, Youtube, Facebook, WhatsApp são ferramentas (perdoem a má palavra) irreversíveis. Quem vai fazer assinatura de O Globo ou qualquer jornal tendo ao dispor milhares de sites democráticos, confiáveis e melhor escritos?
PS – Bolsonaro agiu e Sérgio Moro, ministro da Justiça, afastou Ilona Szabó do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Szabó é tida como assecla de George Soros, o megaespeculador do capitalismo selvagem e velho financiador do comunismo internacional, recentemente banido da Hungria.
Agora só falta enquadrar Mourão, figura do burlesco feito “popstar” da Globo News, inimiga nº 1 do Presidente eleito.
(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.
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