Catapulta de declarações polêmicas e descabidas, Jair Bolsonaro é dependente das “babás palacianas”

Jair Bolsonaro venceu a corrida presidencial no vácuo de declarações tão polêmicas quanto absurdas, o que fez a alegria de uma massa ignara que se preocupou apenas em derrotar o PT, não com o futuro de um país que ainda precisa se livrar dos efeitos colaterais da mais grave crise de sua história.

Despreparado e desprovido de estofo para ocupar cargo de tamanha relevância, Bolsonaro precisa protagonizar situações contundentes e bizarras, pois sua conhecida incompetência o impede de cumprir o que prometeu na campanha. Sendo assim, o País continuará convivendo com declarações marcadas pela estupidez e que exigem explicações por parte das “babás palacianas”.

Que Jair Bolsonaro não sabe o que fala e sequer honra as próprias palavras todos sabem, mas algumas de suas declarações são verdadeiros atentados ao bom senso. Não bastasse a polêmica que eclodiu a partir da publicação de um vídeo grotesco durante o Carnaval, Bolsonaro provocou nova confusão ao discursar na cerimônia pelos 211 anos dos Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro.

Após afirmar que “a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas querem”, Bolsonaro foi socorrido pelo vice Hamilton Mourão, que de maneira informal assumiu nas últimas semanas o papel de “bombeiro presidencial”, tamanha é a quantidade de declarações do capitão que carecem de explicações complementares ou de desmentidos.

Mas a fala de Mourão não foi suficiente para baixar a fervura causada por Bolsonaro, que precisou da ajuda do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, e do porta-voz Otavio Rêgo Barros para tentar conter os efeitos de sua declaração.

Ao lado de Heleno e Rêgo Barros, o presidente gravou um vídeo, divulgado nas redes sociais, em que afirma que sua declaração está provocando as “mais variadas interpretações possíveis”. Senhor de incompetência devastadora, Bolsonaro ao general Augusto Heleno, descrito como alguém “mais antigo, mais idoso, mais experiente”, se de fato sua frase é polêmica.

“É claro que não. Isso não tem nada de polêmico, ao contrário. Suas palavras foram ditas de improviso, para uma tropa qualificada, e foram colocadas exatamente para aqueles que amam a sua pátria, aqueles que vivem diariamente o problema da manutenção da democracia e da liberdade, e exortando para que continuem a fazer o papel que vem fazendo, de serem os guardiões da democracia e da liberdade”, disse Heleno.


O que Bolsonaro e Heleno pensam a respeito do papel das Forças Armadas no âmbito da democracia é problema de cada um, mas é preciso esclarecer que nem mesmo em sonho os militares são baluartes do Estado Democrático de Direito, como sugeriu o general do GSI.

A democracia brasileira está garantida pela Constituição, que em seu artigo 1º estabelece: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”.

A Carta Magna é clara no artigo 142 ao definir o papel das Forças Armadas: “são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

Ou seja, não há no texto constitucional qualquer menção às forças militares como garantidoras da democracia. Isso significa que a democracia não é um favor que os militares prestam aos civis, como sugeriu Bolsonaro e Augusto Heleno as explicações nada convincentes.

Quem acompanha a política nacional com proximidade e persistência não foi surpreendido pela incompetência de Bolsonaro, um político de segunda classe que durante 28 anos como parlamentar não conseguiu sair do chamado “baixo clero” da câmara dos Deputados”. E não seria uma eleição presidencial que o transformaria em gênio da noite para o dia.

A fala do presidente da República na cerimônia no Rio de Janeiro foi marcada pela irresponsabilidade, pois, além de traduzir seu pensamento totalitário, deixou às Forças Armadas um perigoso convite para atropelar a democracia quando bem entenderem.

Ciente de que não tem conteúdo à altura dos desafios que o cargo exige, Bolsonaro tenta espelhar-se na figura tosca de Donald Trump, como forma de buscar o protagonismo, mas deveria seguir os passos da comedida Rainha Elizabeth. Com certeza o Brasil agradeceria.