(*) Carlos Brickmann
Na crise venezuelana, uma coisa é certa: tanto o líder rebelde Juan Guaidó como quem o estimulou e apoiou acreditava na divisão das Forças Armadas, o que lhe permitiria depor Maduro. Não é estranho que lhe tenham passado essa informação, levando-o à armadilha da revolta que, tudo indica, saiu antes da hora. Estranho é que ele e seu grupo tenham acreditado na mentira.
Um dos maiores estadistas da História, Winston Churchill, disse que em tempo de guerra a verdade é tão preciosa que tem de ser protegida por uma muralha de mentiras. A informação em que Guaidó acreditou, de que os militares estavam prontos a derrubar Maduro, em troca de uma série de concessões (anistia, nada de investigações sobre a origem de certas fortunas) fez com que muitos de seus apoiadores secretos se colocassem abertamente a seu lado, pela deposição, e fossem neutralizados. Guaidó e seus aliados deixaram de levar em conta algo que parece óbvio: se o ministro da Defesa Vladimir Padrino pudesse derrubar Maduro, não entregaria o poder a Guaidó, nem a ninguém. Ficaria ele como o todo-poderoso. E se aliaria ao antigo vice, Tareck al Haissami, hoje ministro da Indústria, processado nos EUA por narcotráfico e principal contato venezuelano com o Hezbollah, para que o poder não lhes escapasse. Guaidó e outros oposicionistas seriam descartados, como Maduro, este perigoso demais para continuar vivo e livre.
Acreditar que o Exército de Maduro lhes daria o poder? Pois é.
Quem sabe, sabe
O presidente Bolsonaro chegou a dizer que a decisão de intervir ou não na Venezuela era dele, só dele. Não é bem assim: precisaria do aval do Congresso. Já quem conhece o jogo, como o vice Mourão e demais generais do Governo, jamais pensaram em intervenção. Seria caríssimo, arriscado, e, em caso de vitória, que é que faríamos para recuperar um país em frangalhos, onde há ainda grande número de adeptos de Maduro? E, se tudo desse certo, o vitorioso não seria o Brasil, mas Washington. Se Maduro é nocivo (como acha este colunista), os venezuelanos que o afastem. A ação do Brasil, como disse Bolsonaro em sua última declaração, termina no limite do Itamaraty.
Os homens de Maduro
El Aissami, ex-vice e ligadíssimo a Maduro, foi investigado não apenas pelos EUA, mas pelos próprios serviços venezuelanos de informação. Quem o aponta como contato de narcotraficantes e do Hezbollah é o relatório da informação venezuelana, que vazou. Esses contatos o tornaram bilionário.
Quem paga? 1
Todos escandalizados com as “refeições institucionais” de R$ 1,1 milhão do Supremo? Isto é só uma parte do quadro. Enquanto o Congresso estuda a reforma da Previdência, para fazer economia, o Senado contratou em um mês mais 334 assessores. Os 81 senadores tinham escandalosos 2.420 assessores, agora são 2.754. O senador Izalci, do PSDB de Brasília, é o campeão, com 74 assessores. O senador Reguffe, sem partido, de Brasília, tem nove. Antes das novas contratações, o custo dos assessores era de R$ 3,7 bilhões por ano.
Quem paga? 2
O jornal virtual Poder 360 apurou que 48 parlamentares (que votarão a Previdência) devem R$ 320 milhões à Previdência. São 45 deputados e três senadores. Há dívidas legítimas – R$ 191 milhões; há parlamentares que não pagaram e simplesmente esperam a cobrança judicial – R$ 129 milhões. O campeão de dívidas, diz o Poder, é Fernando Collor, do PTB alagoano. Tem dívida regular, R$ 3,79 milhões, e irregular, R$ 136.238.222,00. É seguido por Elcione Barbalho, do MDB paraense, mãe do governador Helder Barbalho. Dívida regular, R$ 23,09 milhões; irregular, R$ 23,9 milhões.
Doria, olha o Emílio Ribas!
Esta coluna recebeu impressionante mensagem de uma infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, entidade de 139 anos de história e ótima fama. O Emílio Ribas esteve na primeira linha de combate a epidemias de meningite, influenza, febre amarela; e atende a todos os que precisam.
O Hospital Emílio Ribas enfrenta agora o micróbio mais perigoso de sua história: a falta de condições de trabalho. Está sendo reformado desde 2014, por causa da reforma fechou metade dos leitos, e a tal reforma tem conclusão prevista para 2022. Quem precisar de atendimento, por favor, peça à infecção que volte daqui a alguns anos. A médica se queixa da falta de medicamentos básicos, como dipirona, sulfas; boa parte do chão está coberta com papelão.
Não pode: acelera, governador João Doria! Precisamos do Emílio Ribas.
Leitura da boa
Um livro que vale a pena: Memórias da Imprensa Escrita, de um grande jornalista, Aziz Ahmed. É simples: 26 jornalistas contam trechos de suas carreiras, que incluem contatos com políticos históricos, grandes empresários como Roberto Marinho e Assis Chateaubriand, histórias, enfim, de gente que viveu momentos para lembrar. É de ler de uma vez, sem largar.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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