O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), resolveu turbinar a polemica discussão sobre a expulsão do deputado federal Aécio Neves do tucanato. Covas seguiu os passos do governador paulista João Doria, que afirmou ser a saída espontânea de Aécio o melhor para o partido.
O alcaide paulistano, por sua vez, aproveitou o embalo e disse que a presença de ambos no PSDB é “incompatível”. “Ou eu ou Aécio Neves”, disse Covas ao defender a expulsão do ex-senador e agora deputado federal por Minas Gerais.
Na última semana, o diretório municipal do PSDB de São Paulo encaminhou ao diretório nacional pedido de expulsão de Aécio. Em outro vértice da confusão, o diretório de Belo Horizonte reagiu prontamente, ameaçando requerer a expulsão de Bruno Covas, que é investigado em processo de improbidade administrativa por supostos problemas nos editais do Carnaval em 2018 e 2019.
“Se o diretório do PSDB de Belo Horizonte quer a minha expulsão, essa é uma boa decisão, então, que fica agora para o PSDB nacional: ou eu ou Aécio Neves no partido”, disse o prefeito paulistano durante cerimônia de entrega de trens.
O imbróglio que tem Aécio Neves como epicentro passa pelo plano levado a cabo por Doria, que tomou de assalto o PSDB, apesar dos muitos alertas feitos pela “velha guarda” da legenda, a começar pelo ex-governador Alberto Goldman.
Por trás desse pedido de expulsão de Aécio está João Doria, que cada vez mais mira o Palácio do Planalto. Bruno Covas reza pela cartilha de Doria porque precisa do apoio do governador paulista para tentar a reeleição em 2020.
O falso moralismo do novo tucanato e que embala o calvário de Aécio Neves não convence quem conhece as entranhas da legenda. Além disso, não se pode ignorar o escândalo da PPP da Iluminação Pública da cidade de São Paulo, que acabou anulada pela Justiça em razão de rumoroso caso de corrupção.
Durante a fase final do processo de licitação, em que um dos consórcios foi alijado da disputa de maneira torpe, João Doria e Bruno Covas eram prefeito e vice-prefeito de São Paulo, respectivamente, e tinham conhecimento das irregularidades cometidas por agentes da Prefeitura. Só não agiram para conter os ilícitos porque era conveniente deixar o processo avançar à sombra das irregularidades.
As provas levadas ao Ministério Público de São Paulo não deixam dúvidas sobre o esquema de corrupção que favoreceu o consórcio declarado vencedor, mas de maneira estranha – e por coincidência – os promotores decidiram arquivar a investigação por falta de provas após a eleição de Doria ao Palácio dos Bandeirantes.
Em suma, nem Doria nem Covas têm moral para exigir a expulsão de Aécio Neves, o que não significa que o deputado mineiro seja inocente. Apenas defendemos a coerência e a isonomia de tratamento. Até porque, se “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”, muitos tucanos já deveriam ter sido despejados do ninho.