Bolsonaro mostra despreparo como governante e pode vetar pesquisa sobre autismo no Censo 2020

Populista desenfreado e sem doses rasas de competência para ocupar cargo da importância da Presidência da República, Jair Bolsonaro continua governando para uma minoria insana e abduzida, a mesma que deu sustentação à sua eleição em 2018. Não é de hoje que o UCHO.INFO alerta para a incapacidade de Bolsonaro e para a preocupante letargia do governo no que tange a projetos sociais, necessários para minimizar as agruras vividas por uma sociedade cada vez mais desigual.

Apesar de ter afirmado que governaria sem qualquer viés ideológico e repetir esse mantra com certa frequência, Jair Bolsonaro insiste em empunhar sua principal bandeira de campanha: liquidar a esquerda nacional, como se isso fosse possível na democracia, com direito a sepultar o Partido dos Trabalhadores, que chafurdou na lama da corrupção durante mais de uma década.

Bolsonaro, por certo, enxerga o Palácio do Planalto como o boteco mambembe da esquina mais próxima, tamanha é a irresponsabilidade com que trata assuntos sérios e que afetam diretamente a vida do brasileiro. A mais recente sandice, que se confirmada terá de ser explicada mais adiante, envolve a decisão de excluir do censo 2020 pesquisa sobre o número de cidadãos portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O Censo é responsável por registrar oficialmente as características e condições de vida da população brasileira, o que permite nortear políticas públicas e definir o pagamento de verbas assistenciais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que por pouco não foi desidratado no escopo da reforma da Previdência.

Que Bolsonaro é movido pela estupidez todos ao redor do planeta já perceberam, mas é preciso que a opinião pública reaja de forma contundente não apenas às decisões tomadas no âmbito do governo, mas principalmente às declarações de um presidente que não sabe o que fala.

Bolsonaro, que na última semana sinalizou com a possibilidade de vetar projeto de lei que obriga a inclusão de pesquisa sobre TEA no Censo, agora alega que por trabalhar em equipe seguirá a decisão da assessoria técnica. Trata-se de bazófia, pois se o presidente de fato trabalhasse em equipe não teria anunciado a indicação do filho para a embaixada brasileira em Washington.

Na manhã desta quinta-feira (18), ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro se irritou quando abordado por pessoas que cobraram a sanção do projeto de lei que trata da inclusão de pesquisa sobre autismo no Censo.


Sempre dissimulado e abusando da fanfarronice ideológica, o presidente deu explicações absurdas, as quais não coadunam com um chefe de Estado. “Se é para sancionar, eu não vejo maldade. Eu vou seguir a minha equipe, eu não trabalho sozinho. Vamos supor que eu vete, vai todo mundo dar pancada em mim. Agora, quem paga a conta no final, qual o grau do autismo para ver se merece um BPC (Benefício de Prestação Continuada) no futuro? Fazer demagogia eu faço. Quer fazer igual o PT fazia? Então dá para todo mundo”, disse Bolsonaro, revelando mais uma vez que seu objetivo maior é manter a guerra ideológica em marcha.

O presidente da República, que já reconheceu publicamente desconhecer a maioria dos assuntos pertinentes à governança, talvez não saiba o que é na prática o autismo e as necessidades de um portador desse transtorno. Como Bolsonaro está preocupado em garantir a perpetuação da própria dinastia – haja vista as recentes decisões –, as mazelas que atingem setores minoritários da sociedade não merecem a atenção do governo.

Na última semana, Bolsonaro compartilhou vídeo da presidente do IBGE, Susana Guerra, em que ela defende a inclusão de questionamentos sobre autistas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), não no Censo.

“A pessoa que vai fazer o censo, qual é o preparo dela para dizer se essa é autista ou não? Vai acreditar ou não no pai? Confio em todo mundo, pelo amor de Deus. Mas a partir do momento que se vislumbra essa possibilidade, vai ter gente que vai responder que sim”, disse Jair Bolsonaro, que quando questionado sobre o uso de apartamento funcional da Câmara dos Deputados respondeu que utilizava para “comer gente”.

De acordo com o presidente, o governo teria um gasto adicional de R$ 2 bilhões por mês caso os autistas entrassem no BPC. “Você tem que ter um critério que não é apenas o recenseador. Depois, vê quem sofre de autismo ou não e vê em que condições se enquadra. Porque, depois do censo, vai vir a pressão para mais um benefício. Não sou contra, se tiver recurso”, afirmou.

O Palácio do Planalto desembolsou bilhões de reais em emendas parlamentares para garantir a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência, cuja conta acabará no bolso dos mais pobres, mas ameaça dar as costas aos autistas apenas porque será obrigado a abrir o cofre do Tesouro.

É preciso que a sociedade se posicione firmemente diante de um governo pífio e despreparado, que sempre recorre ao populismo barato para encobrir os próprios tropeços, pois Bolsonaro, para amainar sua preocupação com as ameaças sofridas pelo filho Eduardo decidiu indicá-lo para a embaixada do Brasil em Washington.