O “laranjal” do PSL foi transformado em cabo de guerra entre Jair Bolsonaro e Luciano Bivar, presidente nacional da legenda. A recente operação da Polícia Federal contra Bivar foi vista por membros do partido como uma retaliação do presidente da República, que tenta nos bastidores tomar o controle da legenda, principalmente porque em jogo estão algumas dezenas de milhões de reais referentes ao fundo partidário e ao fundo eleitoral.
Com as eleições municipais do próximo ano na alça de mira, Bolsonaro quer incrementar seu poder político com a eventual eleição de prefeitos nas principais cidades brasileiras, o que de certa forma serviria de plataforma para sua tentativa de reeleição em 2002. Uma estratégia questionável, pois o próprio Jair Bolsonaro disse, durante a corrida presidencial de 2018, que não buscaria a reeleição.
Deflagrada na terça-feira (15), a operação da PF aconteceu em meio à queda de braços entre Bolsonaro e Bivar, que nos últimos têm alimentado rusgas cada vez mais contundentes. O UCHO.INFO, sabem os leitores, é radicalmente contra a corrupção, mas uma operação policial dez meses após a abertura de inquérito para apurar candidaturas “laranjas” do PSL pernambucano é no mínimo questionável. Até porque, a realização de busca e apreensão a essa altura dos acontecimentos beira a inocuidade.
A defesa de Luciano Bivar afirmou “que quer crer” que a operação não tem “nenhuma motivação política”. Apesar da insinuação, o pedido para realizar as buscas foi feito pela PF em 21 de agosto, mais de um mês antes do início dos atritos entre Bolsonaro e o presidente do PSL.
No contraponto, o grupo de Bolsonaro no PSL diz estar insatisfeito com Bivar por causa da falta de transparência no comando da sigla e a eclosão das suspeitas em torno das candidaturas de fachada em Pernambuco.
Esse discurso supostamente moralista em defesa de Bolsonaro não convence, já que o presidente da República insiste manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também suspeito de comandar esquema similar de “candidaturas laranjas” em Minas Gerais.
Os apoiadores de Bivar acusam o grupo do presidente da República de querer controlar a polpuda fatia do fundo partidário que cabe ao PSL desde que a sigla se tornou a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados. Esse montante deve chegar a R$ 110 milhões neste ano, podendo crescer ainda mais em 2020.
Não obstante, parlamentares bolsonaristas apresentaram à direção do PSL um pedido de análise das contas internas do partido. Políticos ligados a Luciano Bivar alegam que se esse é o caminho, o partido deve exigir uma devassa nas contas de campanha de Bolsonaro. E é exatamente nesse ponto que está o perigo maior, pois nenhum candidato à Presidência da República se elege com aproximadamente R$ 4 milhões.
Além disso, à sombra de intensa troca de acusações, o presidente da República está sendo acusado de colocar “panos quentes” no caso envolvendo seu primogênito, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz. Ambos, Flávio e Queiroz, estão à frente do escândalo das “rachadinhas”, assunto que veio à tona com a divulgação de relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre a movimentação bancária do “faz tudo” da família Bolsonaro.
Ao menos 20 parlamentares estariam dispostos a deixar o PSL, seguindo os passos de Jair Bolsonaro, que, segundo a advogada Karina Kufa, conversa com cinco partidos sobre eventual mudança de legenda. Usar a operação da PF como justificativa para trocar de partido não deve funcionar, pois casos semelhantes, ocorridos anteriormente, não serviram de argumento para desfiliação.
Alguns dos parlamentares acenaram com a possibilidade de abrir mão do fundo partidário, desde que consigam manter o mandato eletivo. Essa é outra ideia que tem tudo para não prosperar, já que a Justiça Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido, não ao eleito. Sendo assim, a saída é buscar uma solução de consenso, algo que Bolsonaro, após investidas irresponsáveis, tenta encontrar.
Depois da intensa troca de acusações, o presidente da República recuou em sua investida e disse que não deseja tomar o PSL, como anunciado pelos “bivaristas”. Por outro lado, ainda sem digerir a operação deflagrada pela Polícia Federal, Luciano Bivar e dirigentes do PSL avaliam a eventual expulsão de Bolsonaro da legenda. O que seria ruim para o presidente e péssimo para o governo e o País.