Sem conseguir cumprir as muitas e absurdas promessas que fez durante a campanha de 2018, o presidente Jair Bolsonaro continua jogando para sua plateia e apostando cada vez mais em medidas que nada contribuem para a melhoria imediata da vida dos cidadãos. Em suma, têm sido adotadas medidas populistas que, por razões óbvias e já conhecidas, são desprovidas de efetividade.
A mais nova investida pirotécnica de Bolsonaro tem como cardápio um decreto, assinado nesta terça-feira (3), que denunciantes de casos de corrupção e irregularidades no governo. De acordo com o ministro Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU), o objetivo do decreto é impedir a divulgação da identidade do denunciante e consequentemente evitar retaliações.
“A gente vai conseguir evitar que outra pessoa saiba quem denunciou. O órgão (de ouvidoria) que recebeu a informação vai manter o controle sobre essa informação”, disse Rosário.
A identidade só será compartilhada com órgãos de investigação, como Ministério Público e Polícia Federal, se houver justificativa, afirmou o ministro da CGU.
O decreto foi assinado durante evento da Controladoria sobre combate à corrupção, do qual participaram, além de Bolsonaro, os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, e vários ministros do governo.
Bajulação explícita de Moro
O ministro Sérgio Moro (Justiça) disse durante o evento que Bolsonaro é “uma pessoa muito íntegra”. “Não entendam como autoelogio, mas é ponto positivo do atual governo. O presidente Jair Bolsonaro é uma pessoa muito íntegra, todo mundo que o conhece atesta isso”.
Moro admitiu que casos de corrupção “podem existir” na esfera do governo, mas alegou que no passado a prática criminosa estava “incrustada”. “Pessoal acha que é até propaganda política, mas escândalos de corrupção… claro que a gente sabe que em uma máquina gigantesca da administração federal podem existir casos de desvio de conduta, casos de corrupção. Mas vamos fazer paralelo com o passado, em que havia esquemas sistemáticos de suborno, corrupção, incrustados na administração pública”, declarou o ministro.
Cruzando os dedos
Resta torcer para que o tal decreto realmente produza algum efeito, o quanto antes, pois só não enxerga casos de corrupção no governo quem realmente está disposto a passar ao largo do escândalo ou aceita ser enganado.
O governo já foi informado de casos que deveriam estar sob investigação, mas a necessidade de manter o parco apoio no Congresso impede que a necessária apuração avance ou até mesmo seja deflagrada.
Quem conhece a política nacional em detalhes e acompanhou o governo de transição e as primeiras semanas da atual gestão sabe apontar com extrema facilidade os pontos de vulnerabilidade em termos de corrupção e outras transgressões.