Se há na essência humana detalhes que beiram a repugnância, por certo uma delas é a sabujice. E nesse quesito a atriz Regina Duarte não deixa por menos, já que, após protagonizar pífia novela envolvendo o convite para assumir a Secretaria Especial da Cultura, disse sim ao presidente Jair Bolsonaro, durante encontro no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (29).
Regina Duarte, que é apoiadora de Bolsonaro, pode acabar se transformando em fantoche de luxo de um governo tosco que flerta diuturnamente com o retrocesso e o obscurantismo. Se a atriz entende que um cenário marcado pelo atraso e pelo totalitarismo é possível avançar com políticas culturais, não se pode descartar a hipótese de ela ter se deixado enganar pelo glamour do cargo.
Não é de bom alvitre integrar um governo cujo presidente adota regras típicas de regimes autoritários e tenta a todo custo impor balizas culturais. Afinal, pelo que se sabe, cultura é algo que vem do povo, ou seja, de baixo para cima, jamais na mão inversa, como até outro dia pretendia Bolsonaro, que diante da baixa popularidade pode ter recorrido a um factoide.
Na terça-feira (28), horas antes do encontro com Regina Duarte, o presidente da República disse que a nova secretária da Cultura terá liberdade para fazer as mudanças que entender necessárias. “Para mim seria excepcional, para ela, ela tem a oportunidade de mostrar realmente como é fazer cultura no Brasil. Ela tem experiência em tudo que vai fazer. Precisa de gente com gestão ao seu lado, tem cargo para isso, vai poder trocar quem ela quiser lá sem problema nenhum. Então tem tudo para dar certo a Regina Duarte”, disse Bolsonaro.
Há no País centenas de pessoas com capacidade e conhecimento para levar adiante políticas culturais, mas que não são lembradas pelo atual governo porque estão distantes da bizarrice ideológica de Bolsonaro e seus aduladores. Ademais. Afirmar que Regina Duarte sabe como fazer cultura no Brasil não passa de devaneio de ocasião, pois, é importante ressaltar, Bolsonaro é um néscio em vários assuntos – já admitiu publicamente –, a começar pela cultura.
No último domingo (26), Regina Duarte compartilhou em sua conta no Instagram um vídeo em que Adrilles Jorge, ex-participante do BBB, critica o “marxismo cultural”, teoria da esdrúxula alimentada pela direita radical, que acredita em suposto plano da esquerda para dominar a indústria cultural.
“Quem é esse cara?”, indagou Regina na legenda do post. “Depoimento bacana, profundo, super real”, completou a atriz, trazendo à tona mais uma vez a polêmica a respeito do “marxismo cultural”, explorado à exaustão pelo ex-secretário Roberto Alvim, apeado do cargo após vídeo com conteúdo nazista.
No mencionado vídeo, compartilhado por Regina Duarte, Adrilles acusa o “marxismo cultural” de “colocar negros contra brancos, mulheres contra homens, homossexuais contra heterossexuais”.
Aos fatos… Para quem aceita comandar a Secretaria da Cultura, compartilhar um vídeo que trata da canhestra teoria sobre “marxismo cultural” demonstra que Regina Duarte não vê problema em avançar no terreno da sabujice. Mesmo assim, começou muitíssimo mal como responsável pelas políticas culturais.
Sobre o conteúdo do tal vídeo, Regina pode não estar concatenando as ideias, pois Bolsonaro não deixou dúvidas, em várias ocasiões, ser homofóbico, racista e misógino. Contudo, a nova secretaria da Cultura pode estar encantada com a possibilidade de levar ao Planalto Central um “Vale a Pena Ver de Novo”, já que teremos a Viúva Porcina atendendo aos caprichos ideológicos de Sinhozinho Malta.
Em outro vértice do tema envolvendo a Cultura, Bolsonaro confirma o que há muito o UCHO.INFO afirma: o presidente não escreve, sentado, o que diz, em pé, e vice-versa. Durante a corrida eleitoral, Bolsonaro demonizou a Lei Rouanet, como sendo invenção da esquerda, e prometeu acabar de vez com o incentivo que permite a captação de recursos privados para o setor cultural.
Talvez sofrendo de amnésia de conveniência, Bolsonaro finge não saber que Regina Duarte não apenas captou recursos através da Lei Rouanet, mas deve R$ 319,6 mil por irregularidades no uso de recursos provindos da referida lei. Em março de 2018, Regina teve reprovadas as contas de uma peça que captou recursos através da Lei Rouanet e terá de ressarcir o Fundo Nacional da Cultura. E colocar no governo alguém com esse histórico é no mínimo um escárnio. Enfim…