Sempre agarrando-se à anorexia intelectual para tentar impor seu pensamento (homofóbico, racista, misógino e xenófobo), Jair Bolsonaro mostra-se um covarde recorrente quando a situação se apresenta mais complexa, o que não é novidade para aqueles que pensam focados na lógica.
Após mais de um mês de ser notificado pela Justiça, o presidente da República respondeu a uma interpelação do jornalista Glenn Greenwald, do site The Interpect Brasil, afirmando que não cometeu ilícitos ao chamá-lo de “malandro” por adotar crianças brasileiras.
Em julho de 2019, Bolsonaro afirmou que o jornalista norte-americano não seria atingido por uma portaria que previa a expulsão de “pessoas perigosas do Brasil”. A declaração foi dada no âmbito da publicação do conteúdo dos diálogos trocados pelo então juiz Sérgio Moro e integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, em inequívoca demonstração de que os que deveriam respeitar a lei ao julgar simplesmente atropelaram-na.
Na ocasião, Bolsonaro foi além em seu destampatório e emendou: “Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro para evitar um problema desse [a expulsão do país] casa com outro malandro ou adota criança no Brasil”.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora da interpelação, citou o presidente da República para que, com base no que prevê a legislação vigente, ele esclareça “expressões caracterizadas por dubiedade, equivocidade ou ambiguidade”.
Bolsonaro afirmou, na manifestação, entrar tranquilo, já que de suas declarações “não se pode inferir a imputação de qualquer crime, tampouco o intuito de ofender a honra alheia, motivo pelo qual não devo responder por quaisquer das condutas previstas” na lei, como injúria ou difamação.
O presidente afirmou também que o discurso que fez à época tinha caráter meramente político, “sem qualquer conteúdo ilícito, o qual não se enquadra em qualquer conduta prevista no Código Penal”.
Como se a Carta Magna garantisse a qualquer cidadão a prerrogativa de ofender o próximo, Bolsonaro não economizou sua estultice e afirmou no documento suas declarações estão baseadas no direito constitucional da livre manifestação do pensamento.
Que Jair Bolsonaro é radical e intolerante, movido pela ignorância, todos sabem, mas recorrer à Constituição para justificar crimes contra a honra alheia é demonstração inequívoca de covardia. Não é pelo fato de Bolsonaro estar presidente da República que seu pensamento – esdrúxulo, é importante ressaltar – não deva ser contemplado pela isonomia. Isso significa que qualquer cidadão pode usar do mesmo vocabulário chulo e tosco para lhe dirigir a palavra.
Em 20 de dezembro de 2019, quando questionado por um jornalista, à porta do Palácio da Alvorada, sobre os desdobramentos da investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro acerca do escândalo das “rachadinhas”, que envolve seu filho Flávio, o presidente respondeu: “Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”.
Na mesma entrevista, quando perguntado sobre o comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que alegou ter feito a Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do filho e protagonista no caso das “rachadinhas”, Bolsonaro disparou: “Porra rapaz, pergunta para sua mãe o comprovante que ela deu para o seu pai, tá certo? Pelo amor de Deus. Comprovante, querem comprovante de tudo.”