O presidente da República submeteu-se nesta quinta-feira (12) a teste para detectar infecção pelo novo coronavírus, em função de o chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, que o acompanhou na viagem aos Estados Unidos, ter testado positivo para a Covid-19, mas Jair Bolsonaro foi de fato infectado pelo vírus da mitomania.
Seguindo o modelo clássico do ditador que se alimenta na vala do fascismo tropical, Bolsonaro não aceita ser contrariado, ao mesmo tempo em que não admite sair derrotado de qualquer situação que envolva o governo.
Desde o vazamento do vídeo compartilhado em grupo de amigos por meio do WhatsApp conclamando para os protestos agendados para o próximo domingo, 15 de março, Jair Bolsonaro adotou postura oscilante em relação ao tema. Em algumas ocasiões afirmou que não se tratava de um chamamento para os protestos, em outras disse que o movimento não era contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), mas a favor do governo.
Independentemente desse bamboleio discursivo, Bolsonaro contava com as manifestações para reforçar o embate que trava com o Parlamento, pois até agora não demonstrou capacidade para governar. Como a economia do País está cambaleante e o governo nada faz para mudar o cenário, a saída foi buscar um culpado e, seguindo a sugestão do irresponsável ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, incentivar os protestos.
Em decorrência do preocupante avanço da pandemia do novo coronavírus, Bolsonaro apareceu na sua costumeira e enfadonha “live” das quintas-feiras usando máscara hospitalar, ocasião em que, ladeado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pediu para que os protestos fossem cancelados ou adiados em razão da Covid-19.
“O que nós devemos fazer agora é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas. Porque os hospitais não dariam vazão. O sistema não suporta. Daí, problemas acontecem. Pessoal fica apavorado”, disse o dissimulado e mitômano Bolsonaro.
Na sequência, em nova demonstração de disposição para o embate com o Parlamento e nítido envolvimento com os protestos, Bolsonaro afirmou que, como presidente da República, precisa “tomar uma posição” sobre as manifestações, não sem antes descartar qualquer responsabilidade pelo movimento, ao mesmo tempo que ressaltou não ser responsável pelos atos.
“Como presidente da República, eu tenho que tomar uma posição. Se bem que o movimento não é meu. Uma das sugestões: suspender, adiar. Já foi dado um tremendo recado para o Parlamento”, disse o presidente.
Ora, se os protestos são a favor do governo, não contra o Congresso e o STF, afirmar que “foi dado um tremendo recado para o Parlamento” deve ser considerado ato falho de Bolsonaro, que a cada dia se complica mais nesse episódio grotesco que atenta contra a democracia e o Estado de Direito.
Sobre o fato de não ser responsável, Jair Bolsonaro precisa explicar o uso da estrutura da Secom para conclamar a população para os protestos, que agora foram cancelados. Usa-se o dinheiro e a máquina públicas para incentivar as manifestações, mas o presidente da República tem a desfaçatez de dizer que não é responsável pelo movimento.
A essência debochada da transmissão ao vivo, como sempre acontece, ficou ainda mais evidente quando Bolsonaro afirmou que “ninguém pode atacar o Parlamento”.
“De minha parte, ninguém pode atacar o Parlamento, o Executivo ou o Judiciário. Se tem pessoas que não estão de acordo com aquilo com o que você acha, tudo bem. Com o tempo, o povo vai depurando. O presidente não tá bem? Troca. 2022 está aí. Com o Legislativo é a mesma coisa”, disse o presidente.
Tomando como regra o fato de que “ninguém pode atacar o Parlamento”, Bolsonaro deveria mostrar-se corajoso e coerente e demitir Augusto Heleno, pois o chege do GSI foi responsável pelo movimento que acabou cancelado pelo avanço da pandemia do novo coronavírus.
Pedir aos descontrolados apoiadores o cancelamento dos protestos foi uma decisão estratégica, já que o engajamento às manifestações começou a cair nos últimos dias. Para que o fiasco não suba a rampa no Palácio do Planalto, o coronavírus foi colocado em cena na condição de vilão. Em suma, um governo que depende de um vírus para se mostrar forte está doente e em fase terminal.