Trabalho duro –
Quando retornar das férias, na próxima segunda-feira (11), o presidente Luiz Inácio terá de tomar algumas importantes decisões. Entre elas está a que modifica o texto do Programa Nacional de Direitos Humanos, que da forma como foi divulgado acabou provocando uma intifada nos setores militares do governo. Ciente de que a decisão palaciana foi contestada pelos ministros das três Armas e pelo da Defesa, Nelson Jobim, o presidente-metalúrgico disse que a divulgação do texto não passara de um mal entendido. Lula chegou a dizer que assinou o decreto sem ler. Na verdade, o presidente não lê todos os documentos que assina, mas cabe à Casa Civil informá-lo sobre o conteúdo de cada documento. Ou seja, Lula não leu o documento, mas sabia o que estava assinando.
O ponto nevrálgico da polêmica é a atuação da futura Comissão Nacional da Verdade, a ser criada em projeto do governo que será enviado ao Congresso Nacional. Nos setores militares teme-se que o trabalho da comissão e o próprio projeto a ser mandado ao Congresso acabem alterando a Lei de Anistia, cujo objetivo seria punir ex-integrantes do regime acusados de tortura durante o período da ditadura. A era plúmbea brasileira é uma mancha na história do País, mas a mencionada Lei da Anistia beneficiou ambos os lados. Sem contar que os guerrilheiros da época, hoje no poder, também transgrediram.
Responsável pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, o ministro Paulo Vannuchi disse que renunciaria ao cargo caso Lula da Silva alterasse o texto. O que mostra que a criação da Comissão da Verdade está carregada de revanchismo. Antes do anúncio de Vannuchi, o ministro Nelson Jobim também ameaçou deixar o Ministério da Defesa se o teor do decreto presidencial fosse mantido. Jobim foi acompanhado em sua decisão pelos ministros militares.
A decisão de Nelson Jobim teve um ingrediente extra. Muito ligado a José Serra, Jobim viu no imbróglio uma oportunidade de deixar o governo Lula para apoiar a candidatura do governador paulista, que disputará a sucessão presidencial em outubro próximo. Ardiloso, Lula preferiu apagar o incêndio.