Horas após pronunciamento à nação, Bolsonaro volta a atacar governadores por causa do isolamento social

 
Em matéria sobre decisão do Supremo proibindo o governo de produzir e veicular campanhas publicitárias contra as medidas de contenção ao novo coronavírus, publicada na noite de terça-feira (31), o UCHO.INFO afirmou que “é cedo para afirmar que Bolsonaro assimilou a ideia de que o isolamento é, por enquanto, a melhor arma contra o vírus da Covid-19, até porque sua personalidade é oscilante e o presidente não escreve, sentado, o que fala em pé”.

Quem conhece a atuação política de Jair Bolsonaro que seu bom-mocismo é mero factoide e tem duração curta, quase meteórica. Não precisou muito tempo para que isso se confirmasse, pois o presidente da República publicou nas redes sociais, na manhã desta quarta-feira, como se homenageasse o 1º de abril, vídeo de um homem que anuncia o desabastecimento na Ceasa de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e afirma que “a culpa é dos governadores”.

De acordo com o protagonista do vídeo, os governadores querem “ganhar nome e projeção política à custa do sofrimento da população”. O conteúdo do vídeo foi prontamente desmentido por usuários do mercado, que apontaram o funcionamento normal nesta quarta-feira, sem qualquer registro de falta de produtos.

“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos. São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição não interessa mostrar culpados”, escreveu Bolsonaro na rede social.

No vídeo, gravado na terça-feira (31), o homem saiu em defesa de Bolsonaro. “Quem não tem dinheiro passa fome. Mas quem tem dinheiro, mas não tem o que comprar também passa fome. E não vamos esquecer não, a culpa disso aqui é dos governadores, viu?”, afirmou, mostrando imagens de um galpão quase vazio.

“O presidente da República tá brigando incessantemente para que haja uma paralisação responsável. Não paralisar todos os setores, quem não é do grupo de risco voltar a trabalhar, ok?”, completou.

 
Na verdade, o vídeo foi gravado quando a Ceasa realizava processo de higienização do local, procedimento que ocorre três vezes por semana e exige a retirada de pessoas e produtos. Diante da repercussão negativa, Bolsonaro apagou a postagem.

Jair Bolsonaro, no pronunciamento à nação, enganou a opinião pública ao dizer: “Reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto para preservação da vida e dos empregos. Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”.

Ora, se a proposta é unir forças para combater o novo coronavírus e seus efeitos colaterais, não havia razão para Bolsonaro, menos de doze horas após o pronunciamento, voltar à carga contra os governadores. O presidente não está disposto a aceitar a ideia do isolamento, mas aceitou a ideia de moderar o discurso para não acabar sozinho no Palácio do Planalto.

Bolsonaro sabe que não há risco de desabastecimento, pois a própria ministra da Agricultura, Tereza Cristina, descartou essa possibilidade, assim como o ministro da Infraestrutura, que garantiu o pleno funcionamento da logística no País.

Jair Bolsonaro que até recentemente estava preocupado com sua reeleição, agora preocupa-se em continuar no cargo, por isso “estica a corda” cada vez mais, pois sabe que no atual momento não há condições políticas para que um pedido de impeachment seja levado adiante. É importante ressaltar que na política todos os atos são previamente calculados, diferentemente do que imagina a população.

Contudo, se Bolsonaro insistir em seu jeito estúpido de governar, o movimento por sua saída da Presidência continuará crescendo. Não por acaso, o presidente reforçou a presença dos filhos no Palácio do Planalto, a quem delegou a missão de vigiar os principais assessores do governo. Bolsonaro acredita ser invencível, mas está brincando com fogo. E quem brinca com fogo em algum momento há de se queimar.