A tentativa do governo de recontar os mortos por Covid-19, além de ser um ato de desumanidade, durou pouco e rendeu a saída do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos do Ministério da Saúde, Carlos Wizard, que “foi sem nunca ter sido”.
Wizard, o milionário que é dono da rede de escolas de inglês que leva seu nome, passou a enfrentar nas redes sociais a indignação de boa parte da população, que defendia boicote ao seu rendoso negócio. Temendo o fantasma da crise empresarial, Wizard deve ter pensando melhor e ouvido pessoas próximas para decidir deixar um governo desorientado e que flerta o tempo todo com o totalitarismo.
A proposta do meteórico secretário tinha como argumentação a suposta majoração do número de mortos pelo novo coronavírus como forma de estados e municípios conseguirem recursos extras por conta de um cenário que no mínimo deve ser classificado como macabro. Beira a estultice uma proposta dessa natureza, pois até o momento o governo Bolsonaro nada fez para combater a pandemia, pelo contrário.
Secretários estaduais de Saúde, reagiram à insinuação de Carlos Wizard, que caiu em desgraça junto ao núcleo duro do governo de Jair Bolsonaro. No Palácio do Planalto, assessores presidenciais afirmam que Wizard conseguiu comprometer a relação entre o Ministério da Saúde e os secretários estaduais, que começou a ser recuperada pelo ministro Eduardo Pazuello.
Mesmo que a sugestão de Wizard seja uma ode ao absurdo, a recontagem dos mortos pela Covid-19 seria importante para a transparência na divulgação dos dados sobre a doença. E se essa operação fosse levada a cabo, por certo o governo concluiria que o número de mortos pelo novo coronavírus é muito maior do que o anunciado oficialmente. Até porque, muitas pessoas infectadas pelo vírus SARS-CoV-2 morrem sem diagnóstico definito, o que mascara a realidade.
Considerando que a falta de testes para o novo coronavírus proporciona uma escandalosa subnotificação da Covid-19, o contingente de casos da doença no País é pelo menos sete vezes maior, sendo que o número de mortos é, na melhor das hipóteses, o dobro.
Como o presidente da República tenta escapar dos efeitos colaterais do negacionismo, a ordem na sede do governo foi recontar o número de mortos pela Covid-19 para criar mais uma arena de embate político com governadores e prefeitos, além de mudar a forma de divulgação dos dados oficiais sobre a doença.
O futuro do Brasil está sendo decidido por um governante paranoico, adepto convicto da teoria da conspiração, que precisa ser parado antes que o País mergulhe nas turvas e fétidas águas do autoritarismo e do retrocesso. Os críticos e opositores têm mais força do que a horda de apoiadores de Bolsonaro, que adota práticas violentas para intimidar possíveis reações.