Como sempre afirma o UCHO.INFO, política, principalmente no Brasil, só se faz com muito dinheiro, na maioria das vezes de origem ilícita ou proveniente de esquemas de corrupção. Além disso, temos ressaltado ao longo dos anos que o exercício da política foi transformado em um criminoso balcão de negócios, onde o escambo sufoca a democracia e os interesses da população. Isso porque, na esteira de interesses escusos, o malfadado caixa 2 passou a ser tratado como algo normal no âmbito de processos eleitorais, até a criminalização da prática.
Nesse palco do absurdo insere-se o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, deputado federal eleito pelo capítulo gaúcho do Democratas e licenciado do mandato em função do cargo que ocupa no governo Bolsonaro.
Primeira pedra no caminho do então ministro Sérgio Moro, que foi alçado à pasta da Justiça empunhando a bandeira do combate à corrupção, Lorenzoni foi acusado de receber por meio de caixa 2 contribuições de campanha em 2012 e 2014. Inicialmente, o agora ministro da Cidadania negou os fatos, mas depois acabou reconhecendo o ilícito. Ao todo, Onyx Lorenzoni embolsou R$ 300 mil, sem declarar o montante à Justiça Eleitoral nas necessárias prestações de contas de campanha.
Nesta segunda-feira (3), a defesa de Lorenzoni informou por meio de nota que o ministro fechou acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para encerrar a investigação e desse modo evitar a persecução penal. O “acordo de não-persecução penal” está previsto na Lei Anticrime, que passou a vigorar em 23 de janeiro e prevê que o investigado não é punido pelos ilícitos cometidos.
O acordo é apesentado pelo Ministério Público ao investigado, desde que ele reconheça a prática criminosa, sem violência e grave ameaça, e cuja pena mínima seja inferior a 4 anos. A partir de agora, caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) validar o acordo.
No acordo, Lorenzoni admitiu ter recebido R$ 300 mil da J&F, mas acabou acertando pagamento de R$ 189 mil, em parcela única, como forma de compensar o Estado.
Inicialmente, Onyx Lorenzoni, em entrevista à Rádio Gaúcha, reconheceu ter recebido apenas R$ 100 mil e na ocasião pediu desculpas, como se isso fosse suficiente para sepultar uma prática delituosa. Na sequência, sob pressão, Lorenzoni admitiu ter recebido outros R$ 200 mil da J&F.
Tão logo o escândalo ficou sob as luzes da ribalta, a PGR defendeu que a investigação fosse conduzida pela Justiça Eleitoral, como tem acontecido em casos semelhantes. A defesa de Lorenzoni recorreu e o caso ficou parado no STF. Sem definição sobre o foro adequado para a necessária investigação, a PGR e os advogados fecharam o acordo de não-persecução penal.
Além de sonoro desrespeito à opinião pública, o mencionado acordo é prova maior de que na política brasileira o crime compensa. Afinal, oito anos depois de ter embolsado parte dos R$ 300 mil, Lorenzoni compensará o Estado com valor 40% menor e ignorando a inflação do período.
O advogado de Lorenzoni, Daniel Bialski, informou que seu cliente quitará o valor do acordo com recursos de empréstimo bancário. Sem contar os honorários advocatícios, que em casos como o do ministro normalmente gravitam na casa dos sete dígitos.
O Brasil é o eterno paraíso do faz de conta, a exemplo do que destaca com frequência este portal, pois os poderosos sempre conseguem, sob o escudo de criminalistas caros e renomados, punições brandas, enquanto o cidadão comum enfrenta as implacáveis garras da Justiça. Isso porque a Constituição Federal em seu artigo 5º (caput) estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Imagine se por aqui existisse a tal distinção.
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