Sob os efeitos da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social, a economia brasileira registrou retração de 9,7% no segundo trimestre de 2020 em relação aos primeiros três meses do ano. Em relação ao segundo trimestre de 2019, o PIB caiu 11,4%. Ambas as taxas representam as retrações mais intensas da série iniciada em 1996, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (1).
Com as duas quedas recordes, o PIB brasileiro voltou ao mesmo patamar do final de 2009, quando sofria os impactos da crise financeira global de 2008, ocasião em que ocorreu a crise do “subprime” nos Estados Unidos e provocou uma onda que afetou a economia de todos os países.
No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho, houve queda de 2,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. O IBGE também revisou o resultado dos primeiros três meses de 2020: de uma queda de 1,5% para 2,5%. Com dois trimestres seguidos de recuo do PIB, o Brasil encontra -se em recessão técnica. É a primeira vez que esse fenômeno ocorre desde 2016.
O recorde de retração econômica espelha os efeitos da pandemia do novo coronavírus, que não poupou nem mesmo as principais economias do planeta. No final de agosto, a Alemanha, a maior economia da Europa, divulgou o maior declínio de sua produção econômica da história – tendo, assim como o Brasil, registrado queda de 9,7% em relação ao trimestre anterior.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou que entre as 30 economias que apresentaram os resultados econômicos do segundo trimestre, a média da retração do PIB ficou em 9,5%. Considerados somente os países membros da OCDE, a média foi de 9,8%.
No Brasil, entre os segmentos da economia a maior queda no segundo trimestre foi registrada na indústria (-12,3%), seguida por serviços (-9,7%). A agropecuária apresentou variação positiva de 0,4%, puxada pela produção de soja e café. As exportações de bens e serviços cresceram 1,8%, enquanto as importações dos mesmos recuaram 13,2% – sempre em comparação ao primeiro trimestre do ano.
Em comparação ao segundo trimestre de 2019, a agropecuária apresentou um crescimento de 1,2%, o que pode ser explicado pelo desempenho de alguns produtos da lavoura que possuem safra relevante no segundo trimestre e pela produtividade, segundo o IBGE.
A indústria registrou queda de 12,7% em relação ao segundo trimestre do ano passado, a mais brusca da série histórica nesta categoria de comparação trimestral. A atividade indústrias de transformação registrou declínio de 20%, outro recorde negativo da série histórica. A área de serviços caiu 11,2%, outro recorde. E o consumo familiar teve contração de 13,5%, índice que também representa a maior queda registrada na série histórica.
As exportações de bens e serviços cresceram 0,5%, enquanto as importações de Bens e Serviços recuaram 14,9% no segundo trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.
Em valores correntes, o PIB brasileiro no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 175,4 bilhões em impostos sobre produtos líquidos de subsídios. A taxa de investimento no período foi de 15% do PIB – abaixo do 15,3% registrados no segundo trimestre de 2019.
O discurso ufanista de Guedes
Sem ter mostrado até então a que veio e balançando no cargo, o ministro Paulo Guedes, da Economia, novamente usou metáforas para fazer referência ao recuo do PIB do segundo trimestre do ano. “Isso é lá atrás. Isso é um impacto de lá atrás. Nós estamos decolando em V”, disse o ministro ao ser questionado pelo jornal “Folha de S.Paulo”. “Esse é o barulho do raio que caiu em abril”, acrescentou.
Paulo Guedes, que antes da pandemia do novo coronavírus afirmara que a economia brasileira estava em “pleno voo”, está descolado da realidade. Afirmar que a economia está em processo de retomada, “decolando em V”, é irresponsabilidade de quem deveria ser no mínimo coerente com o cenário atual.
A queda no PIB do segundo trimestre só não foi pior porque o auxílio emergencial, pago pelo governo, impediu uma retração ainda maior no consumo. No período (segundo trimestre), o consumo das famílias caiu 12,5% e o grau de investimento recuou 15,4%.
A declaração do ministro é de tal forma absurda, que faltam palavras para adjetivá-la. Quando findar o pagamento do auxílio emergencial, o País verá a “decolagem em V” mencionada por Paulo Guedes. Se até dezembro o governo não conseguir operar um “milagre” na economia, algo impossível, o Brasil enfrentará de maneira mais drástica os efeitos da pandemia. Tanto é assim, que especialistas desconfiam desse excesso de otimismo de Paulo Guedes.
Além disso, com o salário mínimo e o Orçamento da União de 2021 reajustados apenas pela inflação, o brasileiro não deve esperar nenhuma mudança radical e célere na economia, já que o poder de compra do trabalhador e a capacidade de investimento do governo continuarão no engessamento. Isso porque o Orçamento do próximo ano, cuja proposta foi entregue ao Congresso Nacional na segunda-feira (31), não considerou gastos com o processo de vacinação contra a Covid-19, que consumirá alguns bilhões de reais, e deixou de lado os programas Renda Brasil e Pró-Brasil.
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