A disposição do presidente Jair Bolsonaro para politizar cada vez mais a questão envolvendo a vacinação contra a Covid-19 ultrapassa os limites do bom-senso e ingressa com folga nos domínios do crime de responsabilidade e da irresponsabilidade genocida, como temos afirmado ao longo dos últimos meses.
Bolsonaro, que faz da busca por um imunizante contra o novo coronavírus um trunfo político para alavancar seu projeto de reeleição, obrigou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a fazer um pronunciamento no final da tarde desta terça-feira (8) para abordar o tema e tentar desfazer a polêmica que surgiu após embate com João Dória Júnior (PSDB), durante reunião virtual com governadores.
No encontro, Pazuello foi questionado por Dória se o anunciado atraso na homologação da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butatan, é uma questão política ou ideológica. Ambos, Pazuello e Dória, se estranharam durante o encontro e trocaram provocações, mas a cobrança dos governadores por um imunizante foi generalizada.
O descaso de Bolsonaro em relação à Coronavac já era grande, mas aumentou depois que o prefeito de Curitiba, Rafael Grecca, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e municípios de Santa Catarina anunciaram que comprarão a vacina produzida pelo Butantan.
Com evidente dificuldade oratória, até mesmo durante leitura do pronunciamento, Pazuello, sem citar a Coronavac, mencionou todas as outras vacinas que estão em fases finais de testes e disse que a vacinação em massa será centralizada e seguirá as diretrizes do Ministério da Saúde. O ministro encerrou o pronunciamento sem permitir perguntas de jornalistas, o que mostra o viés político da manifestação.
Na reunião com governadores, Eduardo Pazuello disse que a aprovação da Coronavac pode demorar até 60 dias, o que de chofre compromete o cronograma estabelecido por Dória, que na segunda-feira (7) anunciou que em São Paulo a vacinação contra a Covid-19 começará em 25 de janeiro. O prazo de 60 dias para a aprovação de uma vacina é demasiado, como afirmou William Dib, ex-presidente da Anvisa.
Pazuello aproveitou o pronunciamento para anunciar que o governo está finalizando acordos de compra de vacinas de outras fabricantes, como, por exemplo, a Pfizer, já que o fármaco desenvolvido pela AstraZeneca, parceira da Fiocruz, sofreu um percalço na última fase de testes.
O ministro da Saúde também afirmou que a aprovação do registro da vacina da AstraZeneca se dará no final de fevereiro, o que explica o dilatado prazo de 60 dias para aprovar homologar qualquer imunizante contra a Covid-19, começando pela Coronavac.
Causa espécie nesse circense espetáculo liderado por Jair Bolsonaro, em que Pazuello desempenha o papel de arlequim da recados, que até o momento o presidente da República abusou do negacionismo ao falar sobre a pandemia do novo coronavírus, classificada por ele como “gripezinha” e “resfriadinho”, mas agora, por razões político-eleitorais, quer a paternidade de uma vacinação em massa.
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