Partida de Bruno Covas cria um hiato na moderação política, mas seu exemplo deve ser seguido

 
(*) Waldir Maranhão

A morte prematura de Bruno Covas tira do comando da maior cidade do país um político que fez da moderação sua arma mais eficiente. Sua partida, aos 41 anos, interrompe uma carreira política promissora, no momento em que a polarização e a intolerância tomam conta do cenário nacional.

Voz conciliadora dentro do seu partido, o PSDB, Bruno herdou do avô, o saudoso Mário Covas, um dos fundadores da legenda, a intimidade e a vocação para a política.

Todos nós somos finitos, mas algumas pessoas ficam para sempre por conta do seu legado. Apesar de jovem, Bruno Covas esbanjava invejável maturidade política, algo que os brasileiros tanto necessitam.

Sempre aberto ao diálogo, Bruno Covas foi um apaziguador nato que fez da generosidade e do otimismo o caminho para avançar na cena política. Mesmo assim, jamais ultrajou a coerência, pois sabia o momento de avançar e de recuar.

Bruno deixa ao país um exemplo de como enfrentar o radicalismo, sem descer às raias do absurdo e da apelação. Tratava os adversários políticos apenas como oponentes, jamais como inimigos.

Mostrou firmeza política ao reagir aos rompantes de quem faz do contraditório uma diversidade perturbadora, comportamento típico dos que flertam com radicalismo. Essa postura coerente ficou marcada quando disse que Jair Bolsonaro precisa ser “presidente do Brasil, não presidente da direita”.

Desde a redemocratização, o Brasil enfrenta atualmente no campo político o mais sui generis dos momentos, o que assusta os cidadãos de bem e compromissados com a democracia e a liberdade.

O inviolável compromisso de Bruno com a democracia nos obriga ainda mais a trabalhar na busca de uma candidatura à Presidência que impeça o retorno do país ao retrocesso e ao obscurantismo. E sua ausência será sentida nessa costura tão importante e necessária.

Que a força e a coragem que Bruno Covas demonstrou ao enfrentar a doença prevaleçam sempre na preservação da democracia.

Escreveu o prefeito nas redes sociais por ocasião do recente Dia das Mães: “Continuo a lutar aqui no hospital. Sem baixar a cabeça e sem perder minha motivação. Muita força, foco e fé.”

Recorro ao dramaturgo inglês William Shakespeare para, finalizando, descrever a coragem de Bruno Covas: “Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.”

Como correligionário de Bruno Covas, com quem tive o privilégio de conviver na Câmara dos Deputados, afirmo sem titubear que ele foi um corajoso, seja como político, seja como ser humano.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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