Como tem afirmado o UCHO.INFO, o governo de Jair Bolsonaro acabou e o presidente da República vê seu plano de reeleição esfarelar em meio a ameaças à democracia e a mentiras das mais diversas. A Bolsonaro só resta discursar para sua incompreensível base de apoiadores, alguns dos quais se aglomeram diariamente no “cercadinho” do Palácio da Alvorada.
Há muito insistindo na tese delirante de que as eleições de 2018 foram fraudadas e sua vitória nas urnas teriam ocorrido no primeiro turno, Bolsonaro passou a afirmar que o pleito anterior (2014) também tinha sido alvo de fraude. Em suma, o presidente decidiu focar em eleição que não lhe dizia respeito como candidato, como forma de distrair parte da opinião pública.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou a existência de fraude na eleição presidencial de 2014, tendo feito isso de maneira comprovada, assim como o então candidato Aécio Neves, após reclamação à Corte, reconheceu a lisura do processo eleitoral.
Impondo condições ditatoriais para que veículos da imprensa acompanhassem ao vivo sua enfadonha “live” semanal, Bolsonaro prometeu apresentar durante a transmissão provas da fraude ocorrida na eleição de 2014.
Contudo, o que Bolsonaro imaginava ser a “bala de prata” acabou sendo um monumental fiasco (mais um para sua quase interminável coleção). O presidente disse não ter como comprovar a existência de fraude nas eleições. “Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda como vários indícios”, afirmou.
Como sempre, a transmissão foi feita a partir da biblioteca do Palácio da Alvorada e estavam presentes na residência oficial da Presidência os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), além do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
No vácuo da ameaça feita pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de que sem voto impresso as eleições do próximo correm risco, o chefe do Executivo disse que o assunto deve ser tratado pelos militares.
“Alguns desses criticaram militares do meu lado, dizendo que isso não é uma questão para nós tratarmos. Que é uma questão política. Não. Todos são obrigados a votar no Brasil, de maiores de 18 anos até os 70. Então, interessa a todos nós. Essas eleições têm a ver com a nossa soberania nacional, nosso relacionamento com o mundo todo”, declarou.
Bolsonaro aproveitou para mais uma vez atacar o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e defender a implantação do voto impresso, que ele insiste em rotular como “auditável” e democrático.
“Por que o presidente do TSE quer manter suspeição das eleições? Quem ele é? Por que ele fica interferindo por aí, com que poder? Não quero acusá-lo de nada, mas algo muito esquisito acontece”, disse o presidente da República.
“Onde quer chegar esse homem que atualmente preside o TSE? Quer a inquietação do povo? Quer que movimentos surjam no futuro que não condizem com a democracia?”, questionou.
Prova maior da democracia existente no País, a qual Bolsonaro ataca diuturnamente, é a realização de eleições que têm proporcionado alternância no poder. Além disso, os votos depositados nas urnas eletrônicas são plenamente “auditáveis”.
Sem ter como comprovar suas irresponsáveis declarações sobre o processo eleitoral, o presidente se viu obrigado a inverter a retórica mitômana e cobrou do TSE provas de que o processo eleitoral não é “fraudável”.
“Será que esse modo de se fazer eleições é seguro, é blindado? Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Me apresente provas [de que] não é fraudável”, desafiou Bolsonaro.
É importante ressaltar que no campo do Direito é imperiosa a tese de que o ônus da prova cabe a quem acusa, não ao acusado. Não obstante, o TSE já provou inúmeras vezes que o processo eleitoral é seguro e imune a fraudes.
As mentiras e as investidas contra a democracia crescem à medida em que despenca a possibilidade de Bolsonaro conquistar um novo mandato. O presidente tenta criar com antecedência um ambiente que lhe permita contestar eventual derrota nas urnas, assim como abrir caminho para reeditar por aqui a invasão do Capitólio, ato criminoso e antidemocrático incentivado por Donald Trump, que se negou a reconhecer o fracasso eleitoral.
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