Quando afirma ser um incontestável desastre a política econômica do governo é que o presidente Jair Bolsonaro deveria cobrar do ministro Paulo Guedes uma solução, em vez de criar factoides populistas, o UCHO.INFO não o faz por questões ideológicas, mas com base na constatação da realidade.
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (8) mostra que 33,1 milhões de pessoas no Brasil não têm o que comer, fazendo o País regredir a um patamar de insegurança alimentar equivalente ao da década de 1990.
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, o País tem 14 milhões de pessoas a mais em situação de fome do que há um ano. Os principais motivos para o avanço da fome são a falta de políticas públicas e a o cenário da pandemia.
A pesquisa revela que 58,7% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). Atualmente, apenas quatro em cada 10 domicílios brasileiros conseguem manter acesso pleno à alimentação, ou seja, estão em condição de segurança alimentar.
Em números absolutos, são 125,2 milhões de brasileiros que passaram por algum grau de insegurança alimentar entre o final do ano passado e os primeiros meses de 2022. Trata-se de um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018.
Motivos para o avanço da fome
Para os autores da pesquisa, as medidas tomadas pelo governo para combater a fome hoje em dia são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, do desemprego e da queda de renda da população.
“Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros”, destaca Renato Maluf, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), que realizou o estudo com o apoio da Ação da Cidadania, da ActionAid, da Fundação Friedrich Ebert Brasil, do Ibirapitanga, da Oxfam Brasil e do Sesc São Paulo.
As estatísticas foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal.
A pesquisa anterior, de 2020, mostrava que a fome no Brasil tinha voltado para patamares equivalentes aos de 2004. A continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia agravaram ainda mais o cenário.
“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, afirma Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.
Mulheres e negros entre os mais afetados
A pesquisa também mostra que as regiões Norte e Nordeste são as mais impactadas, com índices de insegurança alimentar de 71,6% e 68%, respectivamente. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média nacional é de aproximadamente 15%, e, no Sul, de 10%.
O estudo também mostra que nas áreas rurais a insegurança alimentar esteve presente em mais de 60% dos domicílios – sendo que 18,6% das famílias convivem com a insegurança alimentar grave. Além disso, a fome atinge 21,8% dos lares de agricultores familiares e pequenos produtores.
Em 65% das casas comandadas por pessoas pretas ou pardas há restrição de alimentos. E, nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome foi de 7% para 11,9%. Isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros.
Em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos – de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atingiu 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos a segurança alimentar chegou a 47,4%.
Outro dado devastador é a falta de acesso regular e permanente à água, também conhecida como insegurança hídrica, realidade vivida por 12% da população geral brasileira.
Endividamento preocupante
Para reforçar o cenário de tragédia social provocado pela desastrada política econômica conduzida pelo ainda ministro Paulo Guedes, o endividamento das famílias brasileiras alcançou patamar que no mínimo deve ser classificado como preocupante.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgada na terça-feira (7) mostra que sete em cada dez famílias brasileiras estão endividadas. Índice aumentou quase dez pontos percentuais em um ano.
As dívidas comprometeram, em média, 30% do orçamento das famílias no mês de maio — maior proporção desde agosto do ano passado.
Para algumas famílias, a situação é ainda pior. De acordo com o levantamento do CNC, de cada quatro endividados, um precisou gastar mais da metade da renda só para pagar dívidas de bancos e financeiras.
Enquanto o brasileiro passa fome e se endivida cada vez mais, o presidente Jair Bolsonaro preocupa-se apenas com o projeto de reeleição, que diante de um possível fracasso tem levado o chefe do Executivo a recorrentes descontroles discursivos. Mesmo assim, Bolsonaro afirma que caso seja reeleito, Paulo Guedes continuará à frente do Ministério da Economia.
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