O grupo fundamentalista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, anunciou nesta terça-feira (6) que escolheu Yahya Sinwar como novo líder. Ele sucede a Ismail Haniyeh no cargo, chefe do braço político do Hamas que vivia exilado no Qatar e foi morto em 31 de julho em visita a Teerã, no Irã.
A escolha sinaliza radicalização ainda maior do grupo e disposição de continuar a guerra: considerado o principal comandante do Hamas na Faixa de Gaza, Sinwar é apontado como arquiteto dos ataques de 7 de outubro a Israel que deixaram cerca de 1.200 mortos e resultaram no sequestro de cerca de 250 pessoas – destas, 111 continuam em Gaza, das quais 39 são dadas como mortas pelas forças israelenses.
Também indica que o braço militar do grupo prevaleceu sobre o político, dificultando ainda mais as negociações de cessar-fogo.
A nomeação de Sinwar, que é próximo do Irã, deve ser lida por Israel como uma provocação: representante da linha mais dura e beligerante do grupo, ele é um dos nomes mais procurados pelas forças israelenses. Acredita-se que ele esteja escondido nos túneis de Gaza.
Não está claro se Sinwar sairá do território, onde seu irmão, Mohamed Sinwar, é o candidato a assumir o posto de comandante-chefe das Brigadas al-Qassam – braço armado do Hamas – após a morte de Mohammed Deif, em 1º de agosto. A morte foi anunciada por Israel, mas não foi confirmada pelo Hamas.
O anúncio do Hamas acontece em momento de apreensão sobre uma possível escalada do conflito envolvendo outros atores regionais, como o próprio Irã, o Hezbollah no Líbano e os houthis no Iêmen.
“O carniceiro de Khan Yunis”
Visto como carismático e altamente inteligente, mas brutal e implacável, Yahya Sinwar governa o Hamas em Gaza com mão de ferro. Ele nasceu no campo de refugiados de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 1962, e foi um dos membros fundadores do grupo fundamentalista em 1987. Alguns anos depois, também participou da criação do braço armado do grupo, as Brigadas Al-Qassam, que realizaram vários ataques suicidas em Israel.
Recebeu o apelido de “Carniceiro de Khan Yunis” depois de tomar medidas brutais contra palestinos suspeitos de colaborar com Israel.
Em 1988, foi condenado por um tribunal de Israel a quatro sentenças de prisão perpétua por matar dois soldados israelenses e assassinar vários palestinos. Na prisão, aprendeu hebraico e, segundo consta, estudou a mentalidade do “inimigo” lendo livros de personalidades israelenses famosas. Dizem que médicos israelenses salvaram sua vida ao removerem um abscesso de perto de seu cérebro.
Após 22 anos de prisão, foi solto em 2011 juntamente com mais de 1.000 palestinos, como parte de um acordo de troca de prisioneiros que levou o Hamas a libertar o soldado israelense Gilad Shalit, que estava há cinco anos em cativeiro. Sinwar retornou a Gaza e tornou-se responsável pela ligação entre os braços militar e político do Hamas. Em 2017, se tornou o líder do grupo islâmico na Faixa de Gaza.
Cessar-fogo em Gaza
Estados Unidos, Egito e Qatar estão tentando salvar as negociações por um cessar-fogo e a soltura de reféns. Os EUA têm trabalhado por um acordo que contemple a soltura de todos os reféns ainda em poder do Hamas em troca do fim do conflito e a saída das tropas israelenses de Gaza.
Contudo, enquanto o Hamas insiste em ter garantias de um cessar-fogo que continue até a definição dos termos desse acordo, líderes israelenses têm ameaçado retomar os combates após a soltura de parte dos reféns, a fim de eliminar o grupo.
Em Washington, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse que Sinwar “era e continua sendo o principal tomador de decisão quando se trata de concluir o cessar-fogo”. “Depende dele, realmente.”
No passado, Israel assassinou vários líderes importantes do Hamas: o fundador do grupo, o xeque Ahmed Yassin, que estava em uma cadeira de rodas, em março de 2004, e seu sucessor Abdelaziz Rantisi, menos de um mês depois, assim como dois outros chefes do braço armado, Salah Shehade (2002) e Ahmed Jabari (2012).
A guerra na Faixa de Gaza já dura quase dez meses. Foi desencadeada pelo ataque sem precedentes a Israel perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro que, segundo dados israelenses, deixou cerca de 1.200 pessoas mortas. Em resposta, Israel empreendeu ações militares massivas na Faixa de Gaza, as quais, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, já deixaram 39,5 mil mortos. Além de Israel, o Hamas também é classificado como organização terrorista pelos EUA e pela União Europeia. (Com agências internacionais)
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