Política da barbárie

(*) Gisele Leite

De certa feita Tom Jobim cunhou a célebre frase: “O Brasil não é para principiantes”, o que já acenava para a intensa complexidade que é viver em nosso país, dotado de grande extensão territorial e assediado por contradições e desigualdades colossais.

Os debates políticos servem de palco para estratégias esdrúxulas de visibilidade, tais como cadeirada, soco e outras tantas aleivosias que atraem a atenção, mas não expõe numa solução para os diuturnos problemas do Brasil. Os candidatos atuam em performance procurando gerar afetos, adesões e até haters (os odiosos opositores), no melhor sentido, falem mal, mas falem de mim… Gozamos de propaganda política vil e primitiva e que atuam numa barbárie intensa e sem limites.

Há uma ala da direita histérica e a outra ala, a da esquerda que oscila entre o narcisismo até a vaidade extrema de ser o redentor das minorias, de mulheres, negros e periféricos. Em meio a esse cenário, as eleições municipais apostam na figura do idiota que tem variadas configurações. Podendo aparentar uma ideia de protesto, mudança e sendo muito sedutor aos incautos.

A figura do idiota goza de grande comunicabilidade e traz o protótipo do revolucionário que quer a desordem para gerar alguma transformação. O idiota é uma figura de sucesso tanto que em França, o palhaço Coluche (Michel Gérard Joseph Colucci) tentou se candidatar a presidente e obteve muita adesão, principalmente na ala esquerda. Sua candidatura fora indeferida.

Entre nós, tivemos o Tiririca que tinha o lema: “Você sabe o que o Congresso faz? Também não sei, mas vote em mim”, e, conseguiu ser o mais votado para Deputado Federal e, em seguida, fora o segundo mais votado sempre explorando sua figura associada ao humor.

A extrema-direita utiliza figuras icônicas onde prevalece o comportamento destemperado, dirigido por marqueteiros argutos, e assim, mesmo falando monte de besteiras, atrai a atenção e votos. A figura do idiota sempre comparece na política e, um exemplo na América Latina é o da Argentina, com o Javier Milei que exerce performances e atingem o imaginário popular.

O oportunismo povoa o debate político, é o caso de Pablo Marçal que confessadamente na entrevista do Flow Podcast afirmou que “estava fazendo papel de idiota porque as pessoas gostam de ver coisas grosseiras” … Depois de provocar repetidamente Datena, tomou uma cadeirada.

Até no cinema, o idiota e o palhaço fazem sucesso é o caso do Coringa. No Brasil, a política rompeu o pacto de civilidade e a intensificação do neoliberalismo se expande nas redes sociais e, então, o povo virou plateia a consumir o espetáculo dantesco.

A produção política reside na polarização, na incitação de ódio ao inimigo. Algo que não é inédito nem inovador basta recordar o nazifascismo que foi muito atuante no psicopolítico gerando adesões e endeusamentos. Livrai de nós, tal barbárie!

Referências:

IHU e Baleia Comunicação. “O idiota”: ascensão política da barbárie encarnada em personagens grotescos. Entrevista especial com Domenico Hur. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/644059-o-idiota-a-ascensao-politica-da-barbarie-encarnada-em-personagens-grotescos-entrevista-especial-com-domenico-hur Acesso em 27.9.2024.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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