Com veto do Brasil, a autocrática Venezuela fica fora de lista do BRICS

Venezuela e Nicarágua foram excluídas de uma lista prévia que define os países candidatos ao status de parceiros do BRICS, grupo formado pelas principais economias emergentes do planeta.

De acordo com apurações da CNN e da Globo News, a cúpula do grupo atendeu ao pedido do governo brasileiro para impedir a entrada dos latino-americanos na aliança.

Apenas 13 países são considerados aptos a participar do bloco na nova categoria de “Estados-parceiros”. Entre eles, Cuba e Bolívia. A lista final ainda será definida em encontro da 16ª Cúpula do BRICS, que acontece em Kazan, na Rússia, até o dia 24 de outubro.

Brasil rejeitou adesão da Venezuela

A pressão do Itamaraty acontece em meio ao estremecimento de relações entre o Planalto e os dois países.

Em 7 de agosto, a Nicarágua expulsou o embaixador brasileiro em Manágua após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentar mediar e apaziguar a ofensiva do regime de Daniel Ortega contra a Igreja Católica no país. O Brasil fez o mesmo com o embaixador nicaraguense um dia depois.

Já a proximidade de Lula com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, sofreu acelerado processo de deterioração após o resultado contestado das eleições venezuelanas. Lula, antes aliado de Maduro, sugeriu, ao lado de Estados Unidos e Colômbia, a realização de novas eleições no país e pediu a apresentação das atas eleitorais, o que o governo chavista rechaçou.

Em entrevista à CNN, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse não concordar com a adesão venezuelana à aliança, mesmo com o status de país parceiro. “Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher de países, senão daqui a pouco cria um novo G-77”, disse.

Também à CNN, diplomatas brasileiros afirmaram que o Brasil usou o argumento de que a escolha dos futuros países-parceiros do BRICS deve partir de um consenso, o que elimina a possibilidade de entrada da Venezuela e da Nicarágua.

Maduro pressiona por adesão

A posição do Itamaraty, porém, vai na contramão do governo chavista, que solicitou formalmente acesso ao grupo em agosto de 2023.

Na terça-feira (22), o presidente venezuelano desembarcou em Kazan para participar como observador da cúpula do grupo, em visita que não era esperada pela cúpula. Até a última segunda-feira (21), a Venezuela era representada por sua vice-presidente, Delcy Rodríguez.

Ao desembarcar na Rússia, Maduro disse que o BRICS se tornou “o epicentro do novo mundo multipolar, da nova geopolítica, da diplomacia da paz”.

Também defendeu que os membros estabeleçam “a possibilidade de acesso a outra economia, que não seja administrada com base em sanções e chantagens”, em referência às medidas coercitivas impostas por Washington ao seu governo.

Ele deve se reunir ainda hoje com o presidente russo, Vladimir Putin, e sua presença foi percebida como uma tentativa de pressionar pela entrada da Venezuela no bloco.

BRICS busca expansão

Composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS ganhou novos Estados-membros no início do ano – Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, esse ainda em processo de adesão. A Argentina também foi convidada, mas o presidente Javier Milei declinou a oferta.

Agora, a cúpula que se reúne nesta semana em Kazan decide sobre a criação da categoria de Estados-parceiros, focada nas nações interessadas em acompanhar e referendar as discussões dos países-membros.

A estratégia de expansão da aliança tem sido tomada como prioridade da política externa russa, que, assim como a Venezuela, busca rechaçar seu isolamento do sistema internacional e contornar sanções impostas a ela.

Putin, por exemplo, quer usar o bloco para apresentar uma alternativa ao dólar como moeda internacional. A cúpula debate ainda a criação de um sistema de pagamento liderado pelo BRICS para rivalizar com o Swift, um sistema de transferências internacionais da qual os bancos russos foram cortados em 2022, após a invasão da Ucrânia.

De acordo com o mandatário russo, ao menos 30 países se candidataram para entrar na aliança, entre os quais, Venezuela e Nicarágua. A lista extraoficial que circula em Kazan, porém, inclui apenas 13 nações que estão sendo consideradas para inaugurar a categoria de parceiros dos Brics: Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. A lista foi definida nesta terça-feira (22/10) pelos atuais membros e ainda pode passar por um novo filtro.

As nações do BRICS representam pouco menos da metade da população mundial e cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) global.

Fora do contexto

A possibilidade concreta de recepcionar novos membros fará do BRICS um grupo de contraponto às potências ocidentais, o que foge do objetivo inicial do bloco, que era reunir países emergentes em busca do desenvolvimento econômico.

A Arábia Saudita, por exemplo, que faz parte do bloco econômico, é conhecida aliada dos Estados Unidos, a quem o BRICS em sua nova configuração tenta se opor.

Por outro lado, aceitar Venezuela e Nicarágua no bloco seria temerário, pois é inaceitável que regimes autocráticos sejam contemplados com decisões dessa natureza. Aliás, de autocracias bastam Rússia, China, Irã e Arábia Saudita, que não cedem espaço à democracia.

Se Maduro e Ortega sonharam com a possibilidade de Venezuela e Nicarágua ingressarem no BRICS, o pesadelo prevaleceu. Ademais, soa como heresia ouvir Nicolás Maduro falar em “diplomacia da paz” depois de uma eleição fraudulenta e com direito a violência contra os opositores.

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