(*) Gilmar Corrêa
Lula da Silva passou a mão na cabeça de gente denunciada em crimes, em malversação do dinheiro público, em tráfico de influência. Na sua mais recente manifestação de varrer tudo para debaixo do tapete, disse que José Sarney, seu conselheiro e partidário presidente do Congresso Nacional, era pessoa especial. A ele não cabiam os rigores normais da lei.
Pois bem. No Senado há um segundo Senado: o ilegal. Aquele que beneficia amigos dos amigos, os parentes dos parentes com o dinheiro nosso, seu, o dinheiro da Viúva. Como disse Clóvis Rossi, o Senado caiu na clandestinidade. Sempre se disse que o “Senado era uma caixa preta”. As suspeitas eram verdadeiras, mas a prova é algo difícil de se buscar.
Para acompanhar o dia a dia da liturgia parlamentar, é preciso ter estômago e vigília constante para que o meio não consuma a inquietude, a indignação e o discernimento. Viver entre o Poder pode corromper pensamentos, transformar a ingenuidade e confundir a ficção com a realidade.
Não é de hoje que o Senado Federal vive seus dias de tragédia. Seus 81 parlamentares experimentam o drama da falta de credibilidade. Ali, estão políticos denunciados, envolvidos em escândalos. A Câmara Alta reúne ex-governadores, ex-presidentes, gente experiente na vida pública e, talvez por isso, mais lenientes com a coisa pública.
Passar a limpo o Senado será um passo importante para a depuração dos demais Poderes da República, amadurecer a democracia e transformar a sociedade brasileira. Significa estabelecer a base para um país melhor, com instituições mais confiáveis, atuantes e muito mais comprometidas com o contribuinte.
Transformar o Senado numa Casa comprometida com a legalidade é dar um passo importante para que as demais casas legislativas também façam o que é certo. Tirar Sarney da cadeira de presidente não é suficiente. É apequenar o debate em busca de soluções. Os senadores devem ter o compromisso de mudar. Esta talvez seria a mais importante decisão nesta legislatura. Uma demonstração de fé.
Será duro cortar na própria carne, mas o Legislativo se expressa pela abertura e pelo povo. Foi pelo exemplo do Legislativo que os demais Poderes foram obrigados a se abrir mais, a se mostrar mais. O que dizer, por exemplo, do Judiciário? Foi do Legislativo que saiu a lei que determinou a criação do Conselho Nacional de Justiça – hoje órgão vigilante para as aberrações nos tribunais.
Limpar o Senado não é uma questão de botar ordem na desordem, mas exemplo fundamental num processo de amadurecimento do país. Será o princípio de uma nova fase, assim como foi o processo de democratização no início da década de 1980 ou com a promulgação da Constituição Federal há 21 anos.
Com a palavra, os senadores.