Xis da questão – As enchentes que têm castigado a capital paulista, assim como outras cidades brasileiras, reforçam a incompetência dos governantes, mas também confirmam a tese de que o Brasil está a anos-luz de ser o país de todos, contrariando o slogan utilizado pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva durante sua passagem pelo Palácio do Planalto.
Cenário de estragos catastróficos, São Paulo serviu de palco para que políticos capitalizassem no rastro da tragédia. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) anunciou a criação de um grupo que se dedicará à solução do problema que há décadas castiga a maior cidade brasileira. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que recentemente voltou ao Palácio dos Bandeirantes, rapidamente confirmou investimento de R$ 800 milhões em obras e compra de equipamentos para tentar solucionar um problema que no verão sempre aflige os paulistanos.
Sem perder tempo, até porque política exige celeridade, o Palácio do Planalto informou que uma Medida Provisória será editada nas próximas horas para que R$ 700 milhões sejam destinados as estados que sofrem com as enchentes. E de quebra dois representantes do governo Dilma Rousseff conferirão de perto os estragos provocados pelas chuvas em São Paulo: o ministro da Integração Nacional, Fernando Coelho, e o secretário nacional da Defesa Civil, Humberto Viana.
Mesmo que os anúncios tenham ocorrido depois da tragédia, os investimentos continuam sendo necessários, mas não será apenas com as medidas citadas que o problema das enchentes na capital paulista será debelado. É preciso repensar a cidade como um todo, caso os paulistanos queiram ter daqui a cinquenta anos ou mais uma metrópole com condições medianas de habitabilidade. Do contrário, a maior cidade brasileira se transformará em cenário do caos.
De nada adianta culpar a natureza, como tem feito Gilberto Kassab, quando a responsabilidade maior está na conivência dos governantes com o crescimento desordenado da cidade. Entre as tantas mazelas registradas ao longo do tempo está o fato de as autoridades terem se rendido à pressão do setor imobiliário, permitindo a ocupação indevida de muitas áreas da Grande São Paulo. Fora isso, o impressionante índice de impermeabilidade da região urbana faz com que a água da chuva corra sobre o asfalto em direção a rios e córregos, muitos dos quais canalizados, o que complica ainda mais a situação. Para piorar, a má educação da população se materializa criminosamente nas toneladas de lixo que são arremessadas nas ruas, o que ajuda de maneira maiúscula as inundações.
Em outras palavras, ou todos mudam, ou o melhor é desistir da Pauliceia cada vez mais Desvairada, pois discurso evasivo não recupera a dignidade encharcada do cidadão.