Medo do fantasma – Com discursos que elevaram o ex-presidente Luiz Inácio da Silva à condição de Messias dos trópicos, os senadores que discursaram na quarta-feira (23) a favor do salário mínimo de R$ 545, proposto pelo Palácio do Planalto, usaram como desculpa a impossibilidade de o governo federal comprometer suas contas com um aumento que atendesse às reivindicações das centrais sindicais.
Contrariando o discurso pretérito do Partido dos Trabalhadores, muitos senadores tiveram a ousadia de ocupar a tribuna do Senado para de forma desavergonhada falar em ganho salarial. A desculpa acessória é que até 2022 o salário mínimo terá valor equivalente ao dos países em desenvolvimento, que gira em torno de US$ 800. Nos países desenvolvidos, o mínimo é de aproximadamente US$ 1,2 mil. Até lá, os trabalhadores brasileiros que se virem para sobreviver e ter a chance de contemplar a mentira dos genuflexos estafetas palacianos.
O argumento de que o anunciado ajuste fiscal anunciado recentemente como medida para combater a inflação é a razão maior para limitar o aumento do salário mínimo é uma monumental mentira. E isso ficou provado na própria quarta-feira, pois a Receita anunciou que a arrecadação federal em janeiro alcançou a incrível marca de R$ 91,071 bilhões, valor 15,34% maior do que o arrecadado no mesmo mês de 2010, quando entraram nos cofres da União a bagatela de R$ 76,960 bilhões.
A decisão de limitar o aumento do salário mínimo atendeu à necessidade do governo federal de conter a inflação, uma das heranças malditas de Lula, que poderia disparar diante do aumento do volume de dinheiro em circulação no mercado. Prova disso é que a inflação tem resistido às medidas adotadas pelas autoridades econômicas, o que deve obrigar o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, a aumentar a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do órgão.