Cimitarra ministerial – Há no Palácio do Planalto uma dicotomia discursiva que, além de escandalosa, não contempla os mínimos índices de coerência e razoabilidade. Desde o momento em que o pré-sal transformou o messiânico Luiz Inácio da Silva em um xeique tupiniquim do petróleo, o assunto mais falado nos palanques eleitorais petistas foi que o ouro negro das profundezas marítimas seria o passaporte para o desenvolvimento do País e a redenção dos brasileiros desassistidos.
No rastro do discurso de seu mentor eleitoral, a neopetista Dilma Rousseff embarcou na corrida presidencial tendo o pré-sal como combustível de nove entre dez declarações de campanha. Como sempre afirmamos aqui no ucho.info, o petróleo do pré-sal é uma riqueza que deve ser encarada com responsabilidade, mas sem ufanismo porque a sua viabilidade econômica gravita no campo das incertezas e pode demorar uma década para verter o primeiro centavo nos cofres oficiais.
Deixando de lado as questiúnculas palacianas, o governo da presidente Dilma Rousseff age burramente ao repassar R$ 30 bilhões aos cofres do BNDES, dinheiro que servirá para financiar os mesmos de sempre, deixando de investir na renovação da frota da Marinha, uma vez que o patrulhamento das águas brasileiras exige número maior de embarcações modernas, especialmente porque a aludida riqueza submersa já desperta o interesse de muitos.
Como citou o editor deste site, o jornalista Ucho Haddad, no artigo “Pré-sal e extradição de Battisti na proa da renovação da frota naval brasileira”, o projeto que atende às necessidades iniciais da Marinha verde-loura exigirá o desembolso, ao longo dos anos, de aproximadamente R$ 6 bilhões. Considerando que os governos do Brasil e da França mantêm acordo de cooperação na área de tecnologia militar, nada mais lógico do que avançar nesse processo e dar o pontapé inicial para a aquisição das belonaves que a Marinha brasileira tanto precisa.
Não faz muito tempo, o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, disse durante audiência pública no Senado Federal que, mantida a situação atual que vilipendia diuturnamente as forças militares, a armada naval chegará em 2015 com apenas metade de sua capacidade operacional. Para piorar ainda mais o quadro de penúria das Forças Armadas, a Marinha do Brasil, segundo seu comandante, pode parar em 2020.
Ora, se o pré-sal é a porta de entrada para a anunciada dignidade do povo brasileiro, como garantiu o profeta Lula, o melhor que o governo da presidente Dilma Rousseff pode fazer é colocar um cão de guarda para tomar conta daquilo que há meses vem sendo considerado pelos palacianos como a maior de todas as nossas riquezas, impedindo que os ministros da área econômica, Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), passem a navalha em setor tão importante para a soberania nacional.