O intercâmbio musical franco-brasileiro e os cinquenta anos da morte do compositor Heitor Villa-Lobos e serão temas do festival
(*) Everton Amaro
Considerado o maior evento de música clássica da América Latina, o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão chega à 40º edição, tendo como temas centrais da programação a homenagem aos cinquenta anos da morte do compositor Heitor Villa-Lobos e o ano da França no Brasil, que terá o objetivo de unir música clássica e contemporânea. Os assuntos serão abordados de forma pedagógica entre dias 04 e 26 de julho.
Além de apresentar concertos de alta qualidade aos apreciadores da boa música instrumental, o festival se consolidou através dos anos como uma escola para jovens talentos. Segundo o diretor artístico do evento, Roberto Minczuk, devido à parceria com a França, pelos menos 146 bolsistas poderão trocar experiências com professores vindos da terra de Ravel. “Por meio de parceria com o Conservatório de Paris, diversos professores virão desta e de outras instituições francesas para lecionar no Festival,” explica Minczuk. “O festival não é só um panorama do melhor da música clássica produzida ao redor do mundo, mas principalmente é a única oportunidade de encontro e aprendizado para os futuros profissionais da música”, conclui.
Com o primeiro registro datado há quase 500 anos, a relação musical franco-brasileira mostra um Brasil recém descoberto. De acordo com o diretor pedagógico do festival, Sílvio Ferraz, o seminarista francês Jean de Léry, à época, foi pego de surpresa quando ouviu a melodia de uma tribo de índios. “O seminarista fez o primeiro registro de música brasileira: o canto Canindé-Iune, dos índios Tupinambá. Foi nesta época que a relação musical da França no Brasil começou. Eles descobriram um Brasil das relações humanas em que o som, o canto dos pássaros, o som grave das flautas e as melodias indígenas confundiam-se com um imaginário exótico”, esclarece Ferraz.
Para o diretor pedagógico, somente o registro musical realizado pelo seminarista já é motivo para comemorar a relação entre os dois países de língua latina. Mas a influência do maestro Heitor Villa-Lobos acentua o intercâmbio musical entre França e Brasil. “No século XX, alguns compositores franceses ouviam encantados o som de um estrangeiro chamado Villa Lobos”, relatou o diretor pedagógico. Utilizando a sonoridade tipicamente brasileira, o maestro brasileiro não ficou somente relegado ao exotismo, mas acabou trilhando também um caminho de inovação na maneira de compor. Em 1954, por exemplo, o músico brasileiro, fortemente influenciado pelo francês Edgar Varèse e o húngaro Béla Bartók, criou uma de suas melodias mais conhecidas: o bailado “Genesis”, que mostra uma fusão entre o ritmo brasileiro e a melodia europeia.
O festival de Campos do Jordão pretende relembrar os cinquenta anos da perda de Villa-Lobos e a influência francesa em sua obra. Servindo de inspiração para novas composições, o maestro brasileiro abrirá espaço para música a contemporânea. Para o secretário de Estado da Cultura de São Paulo, João Sayad, além de oferecer música de qualidade aos admiradores, o festival será um evento de aprendizado. “A partir de agora, é nossa intenção que a vocação pedagógica do festival se intensifique e impregne não só a Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim, mas consolide, em Campos do Jordão, um pólo de formação e aprimoramento de jovens músicos de todo o país, já em estágio adiantado em sua educação musical”, garante João Sayad.