Fumaça no ar – A compra de supersônicos para renovar a frota da Força Aérea Brasileira, através do programa FX-2, está cada vez mais obscura. Depois que o então presidente Luiz Inácio da Silva anunciou a preferência do governo brasileiro pelos modelos Rafale, da francesa Dassault, o assunto entrou na vala da dissimulação, até o momento em que Dilma Rousseff, já instalada no poder, mandou suspender a operação. Tudo porque algo estranho e pouco ortodoxo pode ter ocorrido no andamento do processo.
Enquanto o Palácio do Planalto não bate o martelo sobre o assunto, os participantes da licitação – Boeing, Dassault e Saab – tentam a todo instante persuadir as autoridades verde-louras, pois o bilionário negócio ganhou ainda mais destaque depois do advento da crise econômica que afeta os chamados países de primeiro mundo.
No afã de não perder uma oportunidade sequer, a francesa Dassault acionou os seus tentáculos no Brasil e levará no próximo final de semana um grupo de parlamentares a Paris, como noticiou com exclusividade o ucho.info na manhã de quarta-feira (15). Para a estranheza de muitos, o convite feito a alguns parlamentares, supostamente a mando do Senado francês, ficou sob a responsabilidade do ministro Nelson Jobim, da Defesa, que na tarde de ontem reuniu em seu gabinete um grupo de deputados que integram a recém relançada Frente Parlamentar da Defesa Nacional na Câmara.
Para provar que o convite não partiu do parlamento francês e que há algo muito estanho nessa operação, o ucho.info perguntou à assessoria do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre essa voadora caravana da alegria que nos próximos dias aterrissará na Cidade Luz. Os assessores de Rebelo informaram que o deputado, que é vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, desconhece a feira conhecida como Paris Air Show, que acontecerá de 20 a 26 de junho no aeroporto parisiense de Le Boruget, e que não se o parlamentar foi convidado para o evento.
Causa enorme estranheza o fato de o Senado francês não ter enviado os tais convites ao Congresso Nacional brasileiro, cujas Casas legislativas têm departamentos específicos para tratar de assuntos dessa natureza, dispensando inclusive o esforço bisonho de Nelson Jobim para organizar um grupo de políticos que em nada podem ajudar a Dassault a emplacar os Rafale no céu que cobre essa tresloucada Terra de Macunaíma.
Tão logo teve a vitória nas urnas confirmada oficialmente, Dilma Rousseff disse que não toleraria em seu governo qualquer ato de transgressão cometido por ministros e assessores. Até onde se sabe, o gaúcho Nelson Jobim recebe do contribuinte brasileiro para tratar dos assuntos relacionados à defesa nacional, mas jamais para agir como agente de turismo de luxo ou lobista de fabricante de caças. Especialmente porque esse papel é pequeno demais para quem já integrou, com pompa e circunstância, a mais alta corte da Justiça brasileira.
É fato que o Executivo não deve ingerir nos assuntos do Poder Legislativo, mas já que o rolo compressor palaciano passeia na Esplanada dos Ministérios como quer, o mínimo que a presidente deveria fazer para manter o discurso de probidade é condenar a utópica viagem de um grupo de parlamentares à capital dos franceses. Até porque, até agora ninguém sabe quem pagará essa conta.