(*) Gilmar Corrêa –
Fernando Collor, José Sarney, Michel Temer, Dilma Rousseff e toda a República tupiniquim deu declarações simpáticas ao falecido. Itamar Franco foi um homem digno, disseram. Na sua trajetória pública, jamais aceitou propina, completaram.
O seu currículo ficou inabalável nos seus 81 anos bem vividos. Seria uma das raras figuras políticas com um passado capaz de honrar seus amigos e sua família.
Itamar, por não aceitar determinadas regras desse mundo promíscuo, era uma espécie de ovelha negra num rebanho de lobos. Seu posicionamento, sempre firme e uma lealdade canina a princípios da ética e da moral, sempre foi taxado de grosseiro.
Não foi o que disseram os políticos na beira de seu caixão em Juiz de Fora e nas páginas da Imprensa. Procuraram palavras próprias para o momento. Infelizmente, nenhuma dessas autoridades, nem mesmo a presidente Dilma Rousseff, afirmou que poderia se espelhar em seu passado, em sua caminhada. Nenhum desses senhores mostrou-se arrependido.
Ninguém disse: “OK, precisamos mudar. Itamar deu exemplos. Não podemos continuar com esse tsunami de roubalheiras. A política precisa ser mais ética”. Tudo bem, é ingenuidade, mas não seria algo novo, uma promessa de bons ventos, uma esperança no horizonte?
Nenhum dos parlamentares garantiu que iria mudar para melhor sua trajetória, tendo como exemplo o falecido, tantas vezes incompreendido pela própria classe. Não houve palavras de arrependimento.
Não aconteceram depoimentos sinceros. Declarações firmes para, em homenagem a Itamar, buscar algo melhor, com menos corrupção, para que as instituições funcionem em favor do coletivo e não do particular.
É frustrante ler as frases dos homens públicos no enterro de Itamar Franco. São palavras ao vento. Seria um momento importante para que esses senhores pudessem, no mínimo, trabalhar com a verdade. Suas manifestações foram protocolares de um mundo de faz de conta.
No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) sugere um Código de Ética para orientar seus passos. É ridícula sua sugestão. Seria mais compreensível exigir um Código da Vergonha.
Cabral é o exemplo mais acabado de interesses privados se prostituírem com o público. Suas viagens e seu relacionamento com empreiteiros desnudam um comportamento cada vez mais comum nos governos.
O contrato de R$ 57 milhões da empresa do senador Eunício Oliveira com a Petrobras amplia o leque de sérias suspeitas. Não é um contrato de R$ 10 mil, mas de R$ 57 milhões. Uma Mega-Sena que faria milionárias duas gerações de um brasileiro comum.
No Senado Federal está em marcha outro absurdo contra a moralidade pública. Trata-se da MP da Copa, que simplifica demasiadamente o processo licitatório e abre portas e janelas para todo tipo de falcatruas. O sistema simplificado permite, por exemplo, que uma mesma empresa faça o projeto e construa a obra.
A morte de Itamar, ou melhor, o seu exemplo, deveria servir como uma bússola para os administradores públicos. Não é o que se percebeu nas declarações em homenagem ao ex-presidente. Lamentável.
Continuaremos a ver o dinheiro público servindo a poucos. A corrupção, infelizmente, bate de goleada. Triste, mas é verdade.