Ainda é cedo – A ocupação das favelas do Jacarezinho e do complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro, nas primeiras horas do domingo (14), foi comemorada pelas autoridades fluminenses, mas é preciso cautela em relação ao fato. A operação foi o preâmbulo da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora na região, até então dominada por traficantes, mas o Estado tem o dever de melhorar as condições de vida da população local, sob pena de no curto praz a ação se tornar inócua.
Mesmo com as apreensões feitas pelos policiais e a tranquilidade repentina que passou a reinar nas favelas, a operação tem os seus senões, pois o anúncio antecipado da ação permitiu que os criminosos deixassem o local antes da chegada da polícia. Tanto é assim, que barricadas foram instaladas em vários pontos das favelas e óleo foi derramado nas ruas, dificultando o trânsito de viaturas. O que foi deixado para trás pelos criminosos é pouco se considerado o poderio do tráfico de drogas, que se mudou para outras regiões.
De nada adianta entrevistas recheadas de ufanismo, como a do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), pois a eficiência de todas as operações de ocupação das favelas cariocas depende também da remuneração adequada dos policiais que patrulham as regiões ocupadas.
Não se trata de considerar de forma pasteurizada o contingente policial fluminense como corrupto, pois ao final a corrupção torna-se a única saída para a sobrevivência, quer seja pelo dinheiro, quer seja como forma de fugir das ameaças. Situação semelhante é vista nos presídios de segurança máxima, onde os criminosos de alta periculosidade não demoram muito para agir de maneira remota no mundo da ilegalidade.