É bom decidir – No tradicional café da manhã de final que a Presidência da República oferece aos jornalistas que cobrem o cotidiano do Executivo federal, Dilma Rousseff disse que em 2013 a economia brasileira crescerá ainda mais. Uma declaração sensata, pois qualquer suspiro econômico será uma grande mudança do vergonhoso 1% de crescimento do PIB neste ano. A presidente afirmou também que 2012 foi o ano da competitividade, o que preparou o País para voos mais altos.
Para acabar com as especulações sobre a saída de Guido Mantega do Ministério da Fazenda, Dilma garantiu que é nula a possibilidade de isso acontecer, lembrando que o companheiro de legenda s deixará o cargo se quiser. Como, pelo menos por enquanto, esse não é o desejo de Mantega, o Brasil terá de se acostumar com o bambolê de medidas inócuas para tentar reverter a crise econômica atual.
Como forma de compensar o afago de Dilma, o ministro da Fazenda disse, logo em seguida, que em 2013 a taxa de crescimento da economia será de 4%. Mesmo discurso usado no final do ano passado para projetar o crescimento econômico de 2012.
A permanência de Guido Mantega na Esplanada dos Ministérios é explicada não pela lealdade entre ambos, mas porque Dilma, ciente de que 2013 já começará com dificuldades trazidas do ano anterior, precisa de alguém da sua confiança para dourar a pílula o melhor possível, pois nos bastidores petistas já se comenta à voz solta que se a economia não crescer em níveis convincentes (4%), chance de reeleição de Dilma fica seriamente comprometida. Isso não significa que a presidente será derrotada por um representante da oposição, mas que Lula pode entrar no circuito para salvar a própria pele e também a do partido, transformado nos últimos tempos em uma catapulta de escândalos.
Dilma precisa entender que economia não se conduz com varinha de condão e que crescimento econômico não se tira da cartola, não é obra do ilusionismo. É preciso que o governo faça a sua parte na integra, deixando de acreditar que a redução da tarifa da energia elétrica e o corte temporário de alguns impostos são medidas suficientes para alavancar a anoréxica economia brasileira. Crescimento econômico se dá por uma conjunção de fatores, os quais o governo se recusa a reuni-los em uma mesma cesta de decisões.
Da mesma forma, o governo precisa afinar o discurso em relação aos apagões de energia. Enquanto por um lado Dilma afirma que essas quedas no fornecimento de energia elétrica resultam de falhas humanas, por outro o diretor-geral do Operador nacional do Sistema tem um discurso diferente e eminentemente técnico. Hermes Chipp afirmou, há dias, que os apagões continuarão ocorrendo até que o governo decida investir no setor para a construção de novas subestações. O que não foi feito até agora, pois elevaria o preço da energia elétrica para o consumidor final.
Não obstante, o governo precisa definir qual a sua real intenção em relação à moeda norte-americana, que um dia tem a cotação puxada para cima, mas em outro é derrubada pelo Banco Central sem prévio aviso. A valorização do dólar beneficia o setor brasileiro de exportação, mas encarece os insumos importados necessários para a fabricação de uma série de produtos. Com o real valorizado, o governo consegue, como conseguiu durante muito tempo, manter a inflação sob controle.
Em relação à teimosia do governo de apostar no consumo interno como forma de manter a economia aquecida, essa estratégia em algum momento fracassa de vez. O consumidor está escaldado com o consumismo de anos passados, que deixou circulando nas casas de muitas famílias brasileiras os fantasmas do endividamento e da inadimplência.
Resumindo, o governo precisa decidir se desocupa a moita, ou lá permanece tentando fazer o seu melhor. Do jeito que está, com o país à deriva, não dá para continuar.