Mudez de conveniência – A chamada grande imprensa, tão festejada por muitos, se apequena ao noticiar os fatos do cotidiano sem os necessários comentários ou conexões com outros assuntos. Há dias, foi notícia em todo o País a reforma milionária que a Câmara dos Deputados está fazendo nos apartamentos funcionais, operação que arrancará dos cofres públicos a bagatela de R$ 280 milhões.
Os tais apartamentos foram construídos na época em que Brasília não tinha infraestrutura habitacional e hoteleira. O tempo passou, Brasília cresceu rapidamente e na mesma velocidade os apartamentos funcionais tornaram-se obsoletos, a ponto de se estragarem por falta de uso. Alguns já foram reformados e são verdadeiras preciosidades em uma cidade onde um imóvel vale fortunas.
Como se sabe, a Câmara disponibiliza apartamentos de 200 metros quadrados ou mais, com quatro quartos, totalmente mobiliado e equipado com o que há de melhor e mais moderno em termos de aparelhos eletroeletrônicos, com banheira de hidromassagem, para deputados que no máximo passam dois dias na capital dos brasileiros.
Muitos parlamentares se valem do auxílio-moradia, dinheiro utilizado para o pagamento de hospedagem nos hotéis da cidade. Como denunciou o ucho.info há alguns anos, o que lhe valeu algumas cobranças por parte de alguns políticos, os parlamentares usam a tal verba para pagar o financiamento da compra de imóveis na cidade, o que configura uma ilegalidade. Os contratos entre o vendedor e o comprador são “de gaveta”, mas baseados na confiança e na certeza de que todo início de mês a Câmara paga o “auxílio-moradia”.
Essa moda criminosa surgiu há alguns anos, quando um conhecido empreiteiro, que tornou-se senador, viu no contingente de parlamentares do Congresso – são 594, entre senadores e deputados – uma oportunidade para vender seus imóveis. E o prazo de financiamento era atrelado ao período do mandato: quatro anos para deputados e oito anos para senador.
Até antes da denúncia deste site, os parlamentares eram obrigados a apresentar as respectivas notas fiscais de hospedagem, que por questões óbvias eram todas frias. Desde então, essa exigência foi eliminada e a farra tornou-se oficial.
Enquanto isso, milhões de brasileiros moram em favelas à beira de córregos que inundam ou em morros que desabam, mas quando tragédias ocorrem os políticos se limitam a dizer que sentem muito pelo ocorrido. Algo simples de balbuciar, pois suas casas e lares já estão devidamente garantidos.
Se a imprensa, que depende da publicidade oficial ou faz conchavos com políticos para obter furos de reportagem, continuar com esse comportamento obscuro e que trai a sociedade, o Brasil jamais mudará.
O ucho.info, como sabem os leitores, não faz jornalismo de encomenda, não tergiversa e nem depende de verba oficial para sobreviver. É por isso que insistimos diariamente para que colaborem financeiramente para manter no ar o site que é independente, referência no jornalismo brasileiro e incomoda sobremaneira a classe política, sem apelar a leviandades. Cumprimos o nosso papel com coerência, sabedoria e ideias e ideais concatenados. Pense nisso!