(*) Greenpeace –
Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, a gente deveria celebrar a riqueza que o país tem em florestas, rios e fauna. Mas o vento que sopra do Planalto não é o mais promissor.
A presidente Dilma Rousseff e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, tentaram montar um circo para transformar notícias velhas em propaganda do governo. É como se essa data não existisse para elas. E, se levarmos em considerações as últimas ações e falas desse governo, ela não existe mesmo.
Elas mostraram – de novo – uma queda histórica no desmatamento da Amazônia, que deve ser comemorada, mas que reflete uma situação atrasada (4.571 km2 entre agosto de 2011 e julho de 2012). Desde então, sinais de aumento do desmatamento surgem a toda hora, inclusive vindos do próprio governo por meio de seu sistema Deter. Sobre isso, ninguém falou nada.
Dilma discursou sobre planos estruturantes para a Amazônia que unam combate à derrubada a ações de estímulo ao desenvolvimento preservando a floresta. A fala cheira a ilusão para quem acompanha as últimas notícias da região: indígenas com direitos contestados; o Ibama com poder de fiscalização desidratado; um Código Florestal que beneficia e premia quem passa o trator sobre a floresta; projetos de infraestrutura, notadamente grandes hidrelétricas, planejadas e construídas sem que premissas socioambientais sejam seguidas.
“Até alguns anos atrás, o Planalto usava o Dia Mundial do Meio Ambiente para dar boas notícias concretas, como demarcação de novas unidades de conservação e políticas de apoio a terras indígenas e ao desenvolvimento sustentável. Mas o que vimos hoje foi o governo agindo fora do contexto real do campo, como se estivesse num mundo de Alice, do outro lado do espelho, em que a realidade é distorcida”, afirma Renata Camargo, assessora política do Greenpeace. “Os brasileiros esperam e merecem mais. É possível acabar com o desmatamento, controlar a emissão de gases-estufa, acabar com a violência e o trabalho escravo no campo e crescer com respeito ao ambiente.”
Por fora, bela viola
O Planalto também tentou usar o Plano Nacional de Mudanças do Clima, feito para controlar as emissões brasileiras de gases-estufa, para inflar o evento. Mas o efeito foi contrário.
Os setores de agropecuária, energia e processos industriais mostraram juntas um aumento na faixa dos 20%. São justamente os que tendem a ultrapassar a taxa de emissão vinda do desmatamento e das queimadas, e que carecem de políticas mais rigorosas. Dilma ainda tentou criar um falso dilema, mostrando térmicas e hidrelétricas com grandes barragens como as únicas fontes possíveis de geração de energia no futuro. Esqueceu de propósito o potencial inexplorado no país de fontes solar, eólica e da biomassa.
Claro que o governo tentou dourar a pílula do aumento de emissões de gases-estufa em alguns setores comemorando uma queda geral, e usou cálculos áridos do plano para esconder o tamanho do desafio. A verdade é que as emissões gerais caíram porque o desmatamento na Amazônia caiu, e a meta estabelecida para esse setor e para o desmatamento do cerrado foi construída de forma que fosse mais fácil atingi-la.
“De novo, o governo falha em criar metas ambiciosas, do tamanho de sua capacidade e do desafio que o planeta enfrenta. Até quando o Brasil vai esconder os problemas em vez de tratá-los de forma honesta e corajosa?”, diz Camargo.
O país tem a chance para dar o exemplo para o mundo. Mas prefere fechar os olhos e criar um conto de fadas, em vez de enfrentar abertamente o desafio de crescer preservando o ambiente. É preciso respeitar os direitos dos indígenas e o direito dos trabalhadores rurais, buscar a conservação das florestas e controlar o aquecimento global.