(*) Ucho Haddad –
No país onde o “pão e circo” é o cardápio do cotidiano, uma vitória da seleção nacional funciona como anestésico da consciência popular. Até porque, como mulher de malandro, a torcida esquece o passado negro diante de um afago asqueroso. Assim atuou a seleção brasileira ao enfrentar o onze francês na arena do tricolor gaúcho.
O placar de três gols a zero a favor dos brasileiros em nada mudaria minha opinião se tivesse encerrado os noventa minutos sem qualquer movimento. A seleção verde-loura venceu sem convencer. A vitória serviu para o time fazer as pazes com a torcida e, também, para derrubar alguns tabus, dentre eles o de não vencer grandes seleções nos últimos anos.
Com a ajuda da parcela obediente da imprensa de aluguel, a seleção entrou em campo mais uma vez tendo como atração o atacante Neymar, que nas últimas semanas foi a manchete principal do noticiário esportivo. Tudo porque o FC Barcelona abriu o cofre parta levar para a Espanha o ex-camisa 11 do alvinegro praiano.
Para justificar os valores envolvidos na transação, uma operação de marketing ocupou o entorno do jogador, que há muito não apresenta bom futebol. Neymar é um jogador acima da média que pode se transformar em um novo Robinho caso insista em permanecer no salto alto. Se nada for feito em termos de apoio psicológico, o Camp Nou, estádio do Barça, poderá se transformar em uma arena de touros, tamanha será a fúria a eventualmente tomar conta da torcida catalã.
Em 2010, na Copa da África do Sul, a imprensa esportiva brasileira teceu severas críticas a Cristiano Ronaldo, que durante determinada partida preocupou-se com o penteado antes de cobrar uma falta. Foi o bastante para os críticos de plantão centrarem fogo no atacante português.
Se tirar suspiro da torcida que foi à Rena do Grêmio e certo de que estava a passear em um shopping center balado qualquer, Neymar preocupou-se muito mais com o estilo do que com a bola. Tanto é assim, que ao ser substituído a seleção ganhou ritmo de jogo. Mas isso durou pouco, pois a partida estava perto do seu final.
A onda de salamaleques no entorno de Neymar é de tal forma absurda, que até mesmo a lendária camisa 10 da seleção foi dada ao jogador que custou verdadeira fortuna ao Barcelona. Quem tem futebol de sobra para mostrar dentro das quatro linhas joga até mesmo com a camisa zero. Afinal, debaixo de muitas enganosas batinas existem muitos mármores do inferno.
Setores da imprensa que foram cooptados para escorar a venda de Neymar continuam a incensar o jogador, como se bola no pé não fosse importante. Os amantes do futebol que se preparem, pois a Copa das Confederações será a chance derradeira para Neymar provar que os espanhóis fizeram um excelente negócio. Do contrário, os dirigentes do Barcelona não demorarão a perceber que foi dinheiro demais para contratar um jogador que tem vocação para figurinista e corre o risco de frequentar com certa insistência o banco de reservas.
Em relação à gola da camisa não há porque se preocupar, pois a do Barcelona por sorte é careca. Um problema a menos.