Luz no fim do túnel – A Aids mata 1,8 milhão de pessoas por ano, enquanto outras 34 milhões convivem com o vírus HIV. A ciência corre em busca de uma cura para a doença e, de acordo com as pesquisas, os resultados podem estar próximos.
Durante a conferência da Sociedade Internacional da Aids (IAS), uma das principais sobre o tema, encerrada na quarta-feira (3) em Kuala Lumpur, médicos norte-americanos expuseram os casos de dois pacientes contaminados pelo HIV que não apresentavam mais vestígios do vírus após um transplante de medula para tratar leucemia.
Além disso, um bebê do Mississipi (EUA) nascido soropositivo que recebeu medicamentos antirretrovirais nos primeiros dias de vida também não mostrava qualquer sinal do HIV, mesmo depois de 15 meses sem medicação.
Novas diretrizes da OMS
Os resultados são animadores, e não se trata da única nova medida para frear o avanço da Aids. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma reformulação nas recomendações de tratamento aos portadores do HIV. A entidade sugere o início precoce dos antirretrovirais, quando o sistema imunológico ainda está preservado, reduzindo assim a carga viral do sangue e o risco de contágio. A diretora geral da OMS, Margaret Chan, acredita que é hora de apertar ainda mais o cerco ao HIV, forçando a epidemia a um declínio irreversível.
Cerca de 10 milhões de pessoas no mundo recebem regularmente o coquetel de remédios introduzido em 1996, que previne a multiplicação do vírus. Até então, a recomendação era iniciar o tratamento quando a contagem de linfócitos CD4 caísse para 350 células por milímetro cúbico. Essa diretriz divulgada em 2010 é seguida por cerca de 90% dos países.
A nova recomendação da OMS é que a ministração de medicamentos comece antes, quando a contagem é de cerca de 500 CD4 por milímetro cúbico e o sistema imunológico ainda está forte. Esta prática já é adotada por alguns países, entre eles o Brasil, a Argentina e a Argélia.
Outra nova recomendação da OMS é tratar com antirretrovirais certos grupos de risco, independente de sua contagem de CD4. Entre estes estão as crianças soropositivas com menos de cinco anos, grávidas e lactantes contaminadas, assim como todos os portadores do HIV que tenham relações com parceiros saudáveis.
A mudança eleva para 26 milhões o número de pessoas elegíveis a tratamento, em todo o mundo. Na avaliação do diretor executivo da OMS, Anthony Lake, este é um passo importante para “uma geração livre de Aids”. Até 2025, essas medidas podem evitar 3 milhões de mortes e 3,5 milhões de novos casos.
Mais perto da cura
Em outra frente de batalha contra a doença os cientistas têm igualmente obtido resultados animadores. Embora a comunidade científica internacional evite falar em cura, multiplicam-se os casos em que, mesmo depois da suspensão do uso do coquetel, os pacientes deixaram de apresentar qualquer vestígio do HIV.
O primeiro caso noticiado foi o do norte-americano Timothy Ray Brown, tratado por médicos alemães, que estaria vivendo sem o vírus desde um transplante de células-tronco da medula em 2007. O doador era resistente ao HIV, graças a uma rara mutação genética.
Outro caso foi apresentado na sétima edição da conferência da IAS sobre patogênese, tratamento e prevenção da doença, na capital malaia, e é o do bebê soropositivo do Mississipi. A cautela dos médicos em usar a palavra “cura” procede das peculiaridades do vírus, que pode se esconder em “reservatórios” entre antigas células do sangue e tecidos, reaparecendo com a interrupção do tratamento. A pediatra Deborah Persaud, que lidera equipe encarregada do tratamento do “bebê de Mississipi”, explica que a terapia nos primeiros dias de vida impediu a formação dos “reservatórios” e a consequente volta do vírus.
Mas a pesquisa com adultos também tem mostrado avanços. Cientistas da Universidade de Harvard acompanham dois pacientes que receberam transplantes de medula e que não apresentam sinais detectáveis do vírus, mesmo depois de interromper o tratamento por várias semanas.
Ao contrário do caso de Timothy Ray Brown, as células transplantadas não apresentavam a mutação que dificulta a fixação do vírus na parede da célula saudável, para então penetrá-la. Timothy Henrich, um dos responsáveis pela pesquisa, considera os resultados animadores, mas prefere ainda não falar em cura. “Isto, só o tempo dirá”, comentou. (Com DW e agências internacionais)