Face lenhosa – Autoridades e políticos fingiram estar preocupados com as roucas vozes das ruas, mas a onda de abusos será mantida a qualquer custo, pois política é negócio lucrativo e milionário. E só ingressa nesse clube quem sabe operar com ausência de escrúpulos.
Farra com aviões oficiais não é novidade. Na era do agora lobista Luiz Inácio da Silva um rumoroso caso de uso indevido de aeronaves tomou conta do noticiário, mas logo foi esquecido porque novas manchetes surgiram na sequência.
Nos últimos dias, como se o contribuinte devesse madrugar para financiar farras, pelo menos três políticos transgrediram as regras do bom senso e usaram jatos da Força Aérea Brasileira em viagens particulares, mas que foram malandramente travestidas de compromissos oficiais.
Presidente da Câmara dos Deputados, o peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN) requisitou um jato da FAB para ir, com a noiva e parentes, ao Rio de Janeiro, onde acompanhou a partida final da Copa das Confederações, entre Brasil e Espanha. Descoberto o escândalo, Alves se prontificou a ressarcir os cofres públicos. Por meio de sua assessoria, o parlamentar informou que devolveria R$ 9,7 mil, quando o valor correto, considerando o fretamento de uma aeronave, deveria ser de pelo menos R$ 130 mil.
Também do PMDB, o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (AL), usou um jato da FAB para ir de Maceió a Porto Seguro, onde participou do casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), líder do governo na Casa legislativa. Questionado sobre o uso da aeronave, Calheiros disse, de forma acintosa, que não ressarciria o erário, pois a viagem foi a trabalho. A legislação não permite que autoridades usem aviões oficiais em viagens particulares, mas os alarifes sempre arrumam uma desculpa esfarrapada.
Pressionado, Renan comunicou na tarde desta sexta-feira (5) que devolverá União R$ 32 mil. É importante lembrar que o valor a ser pago por Renan Calheiros é maior que o salário que recebe mensalmente como senador.
Ministro da Previdência Social, o peemedebista potiguar Garibaldi Alves Filho também não resistiu e requisitou um avião da FAB para viajar ao Rio de Janeiro. Assim como o conterrâneo Henrique Eduardo Alves, o ministro, que de igual modo esteve no Maracanã, alegou que tinha um compromisso oficial na capital fluminense. Para piorar, Garibaldi deu carona ao sócio do filho.
Esses três abusos mostram o grau de preocupação dos políticos em relação às reivindicações da população que foi às ruas para protestar contra o descontrolado avanço da corrupção no País e a letargia de um governo formado por incompetentes.
Nos tempos em que puxava o coro estridente da oposição, o Partido dos Trabalhadores criticou duramente o então ministro Ronaldo Mota Sardenberg (Ciência e Tecnologia), que durante o governo FHC usou um jato da FAB para viajar com a família para o arquipélago de Fernando de Noronha. Agora, depois de mostrar a verdadeira face, o PT se cala diante dos descalabros cometidos por aliados e integrantes do governo.