Tiro no pé – A atitude do governador Sérgio Cabral Filho, do Rio de Janeiro, de pedir aos manifestantes que cessem os protestos diante do seu apartamento, no Leblon, na Zona Sul carioca, foi o combustível extra que faltava para incendiar as manifestações. Cabral disse que fazia o pedido como pai, já que tem dois filhos pequenos, mas isso dificilmente será levado em consideração por aqueles que têm levado às ruas os anseios da população.
O governador disse que aceita protestos legítimos diante do Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense, mas que o público não pode ser confundido com o provado. A alegação de Cabral Filho é absolutamente fraca e inconsistente, pois o uso indiscriminado e abusivo dos helicópteros oficiais por sua família foi uma demonstração clara de que o governador confunde o público com o privado.
Sérgio Cabral disse também, ao pedir o fim dos protestos nas proximidades de sua residência, que a família deixou de usar os helicópteros do governo do Rio de Janeiro, mas esse detalhe em nada convencerá os manifestantes que colocaram o governador na alça de mira.
Quando se entregou aos vexatórios espetáculos nas ruas de Paris, que precederam alguns regabofes financiados pelo polêmico empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construção, Cabral não se preocupou em proteger os filhos de eventuais desdobramentos do episódio que ganhou as redes sociais e fizeram do governador uma presa fácil no caminho da opinião pública.
Fato é que Sérgio Cabral arrumou um estorvo considerável, que exigirá muita paciência e talento do incomodado. Sem contar que, tirante os atos de vandalismo, os manifestantes do Rio de Janeiro têm dado um exemplo de civismo ao não desistirem dos protestos. O governador dificilmente renunciará ao mandato, como querem as roucas vozes das ruas, o que seria antidemocrático, mas ele sangrará politicamente por um bom tempo.